sexta-feira, 19 de junho de 2015

O Demônio de Dois Centímetros



Conheci George em uma convenção literária, faz muito tempo. O que me chamou mais a atenção foi a expressão de honestidade e inocência que havia naquele rosto redondo, de meia-idade. Era o tipo de pessoa – pensei – que a gente deixa tomando conta da carteira quando vai dar um mergulho.

Ele me reconheceu pelas fotografias que saem na quarta capa dos meus livros. Cumprimentou-me jovialmente, dizendo que adorava meus contos e romances, o que, naturalmente, me convenceu de que se tratava de uma pessoa inteligente e de bom gosto.

Apertamos as mãos cordialmente e ele disse:

– Meu nome é George Bimnut.

– Bimnut – repeti, para gravá-lo melhor. – É um nome diferente.

– É dinamarquês – explicou -, e muito aristocrático. Descendo de Cnut, mais conhecido como Canuto, um rei dinamarquês que conquistou a Inglaterra no início do século XI. Um dos meus ancestrais era filho dele, nascido do lado errado das cobertas, é claro.

– É claro – murmurei, embora não entendesse bem o que havia de evidente em tal afirmação.

– Ele recebeu o nome de Cnut em homenagem ao pai – prosseguiu George. – Quando foi apresentado ao rei, o monarca perguntou:

“”Homessa, este é o meu herdeiro?”

“Não, majestade”, disse o cortesão que segurava no coIo o pequeno Cnut. “Ele é um filho ilegítimo. A mãe é aquela lavadeira que Vossa Majestade…”

“”Ah! Ainda bem!”, exclamou o rei. Daquele dia em diante, meu ancestral passou a ser conhecido como Bemcnut. Apenas por este nome. Herdei-o por sucessão direta, mas com o tempo o sobrenome mudou para Bimnut.

Nesse momento, seus olhos azuis olharam para mim com uma espécie de ingenuidade hipnótica que me impediu de duvidar de suas palavras.

– Quer almoçar comigo? – disse para ele, fazendo um gesto na direção de um restaurante muito enfeitado, que obviamente cobrava preços extorsivos.

– Não acha que ele parece muito vulgar? – observou George. – Talvez a lanchonete do outro lado da rua seja…

– Como meu convidado – acrescentei.

George lambeu os lábios e disse:

– Agora que estou olhando para o restaurante de um ângulo melhor, ele parece ter uma atmosfera aconchegante.

– Está bem, vamos até lá.

Enquanto comíamos, George comentou:

– Meu antepassado Bimnut teve um filho de nome Sweyn. Um típico nome dinamarquês.

– Eu sei – disse eu. – O nome do pai do rei Cnut era Sweyn Forkbeard. Nos tempos modernos, o nome geralmente é escrito Sven.

George franziu a testa e protestou:

– Não há necessidade, meu velho amigo, de ficar se exibindo para mim. Aceito o fato de que você tem os rudimentos de uma educação.

– Desculpe – respondi, sentindo-me envergonhado.

Ele fez um gesto complacente, pediu outro copo de vinho e disse:

– Sweyn Bimnut era fascinado por mulheres jovens, uma característica que todos os Bimnuts herdaram, e fazia muito Sucesso com elas, também… o que parece ser um traço de família. Contam que as mulheres o viam passar e comentavam: “Oh, como ele é lindo!”. Ele também era um arquimago. – Fez uma pausa e depois perguntou, muito sério: – Sabe o que é um arquimago?

– Não – menti, sem querer ofendê-lo de novo com meus conhecimentos. – Explique para mim.

– Um arquimago é um grande mago – disse George, com o que me pareceu ser um suspiro de alívio. – Sweyn havia estudado as artes ocultas. Naquela época, isso ainda era possível. As pessoas não eram céticas como hoje em dia. A intenção dele era descobrir maneiras de persuadir as jovens a se comportarem daquela forma dócil e gentil que só faz enaltecer a feminilidade e a deixarem de lado qualquer atitude in-transigente e pouco cooperativa.

– Ah.

– Para isso, precisava de demônios. Descobriu que podia conjurá-los queimando certos arbustos e pronunciando palavras místicas.

– E deu certo, Sr. Bimnut?

– Chame-me de George, por favor. Claro que deu certo. Havia um bando de demônios trabalhando para ele, porque, como costumava observar, em tom queixoso, as mulheres de sua época eram céticas e indelicadas; recusavam-se a acreditar que fosse neto de um rei e faziam observações desairosas a respeito da sua genitora. Depois que um dos demônios entrava em ação, porém, tudo se tornava diferente; elas passavam a compreender que um filho natural é uma coisa muito natural.

– Tem certeza de que o seu antepassado realmente conseguia conjurar demônios, George?

– Tenho, sim. No verão passado encontrei o livro dele de receitas para chamar demônios. Estava em um velho castelo inglês que hoje não passa de uma ruína mas já pertenceu à minha família. Havia uma lista com os nomes dos arbustos, a maneira de queimá-los, as palavras a serem lidas, tudo. Estava escrito em inglês antigo (anglo-saxão, você sabe), mas estou estudando filologia e… [1]

Não pude esconder um certo ceticismo.

– Você deve estar brincando – observei.

George olhou para mim, ofendido.

– Por que pensa assim? Por acaso estou rindo? Era um livro autêntico. Testei as receitas pessoalmente.

E conseguiu um demônio.

– Isso mesmo – declarou, apontando para o bolso de cima do paletó.

– Está ai dentro?

George apalpou o bolso e preparava-se para fazer que sim com a cabeça quando seus dedos sentiram (ou deixaram de sentir) alguma coisa. Olhou para dentro do bolso.

– Ele sumiu – declarou, aborrecido. – Desmaterializou-se. Mas a culpa não é dele. Veio me visitar ontem à noite porque estava curioso para saber como era uma convenção, você entende. Dei-lhe um pouco de uísque com um conta-gotas e ele gostou. Talvez tenha gostado até demais, porque começou a puxar briga com uma cacatua que estava em uma gaiola, perto do bar, chamando-a de nomes horrorosos. Felizmente, adormeceu antes que o pássaro ofendido resolvesse tomar uma atitude. Esta manhã, não estava com uma cara muito boa. Deve ter ido para casa, curtir a ressaca.

Eu me sentia um pouco ofendido. Será que ele esperava que eu acreditasse naquilo?

– Está me dizendo que havia um demônio no bolso do seu paletó?

– Seu poder de dedução é impressionante – disse George.

– Qual é a altura dele?

– Dois centímetros.

– Mas isso é menos que uma polegada!

– Absolutamente certo. Uma polegada tem 2,54 centímetros.

– Quero dizer: que tipo de demônio tem dois centímetros de altura?

– Um demônio pequeno, é claro. Mas, como diz o velho ditado, é melhor um demônio pequeno do que nenhum demônio.

– Depende do tipo de demônio.

– Oh, Azazel {é o nome dele) é um demônio bonzinho. Desconfio que é desprezado pelos colegas, porque se mostra extremamente ansioso para me impressionar com seus poderes. Entretanto, recusa-se a usá-los para me tornar rico, o que não seria nada de mais, considerando que sou seu único amigo terrestre. Não, ele insiste em que seus poderes devem ser usados apenas para fazer o bem a outras pessoas.

– Ora, vamos, George. Esta certamente não é a filosofia do inferno.

George levou o dedo aos lábios.

– Não diga coisas como essa, amigo velho. Azazel fica ria muito ofendido. Ele garante que sua terra é simpática, decente e altamente civilizada, e fala com enorme respeito do governante dele, a quem se refere simplesmente como o Todo-poderoso.

– Ele faz mesmo coisas boas?

– Sempre que pode. Veja o caso da minha afilhada, Juniper Pen…

– Juniper Pen?

– Isso mesmo. Posso ver pela expressão de curiosidade no seu rosto que você está doido para conhecer a história, e , terei muito prazer em contá-la.

Juniper Pen [disse George] estava no segundo ano da faculdade quando a história que vou lhe contar começou. Era uma mocinha doce e inocente, fascinada pelos jogadores do time de basquete, todos rapazes altos e simpáticos.

Entre eles, o que mais lhe atraía a atenção era Leander Thomson, alto, esguio, com mãos grandes, capazes de segurar com facilidade uma bola de basquete ou qualquer coisa com a forma e o tamanho de uma bola de basquete, o que por alguma razão me faz pensar em Juniper. Ele era sem dúvida o objeto dos gritos dela quando se sentava na arquibancada para assistir aos jogos.

Juniper conversava comigo a respeito dos seus sonhos,  porque, como todas as jovens, mesmo as que não são minhas afilhadas, sentia que eu era uma pessoa merecedora de toda confiança. Minha postura digna, mas solícita, convidava a confidências.

– Oh, tio George – costumava dizer -, certamente não é errado sonhar com um futuro para nós dois. Posso ver Lean como o maior jogador de basquete do mundo, como o mais cobiçado de todos os profissionais, como o dono do maior contrato da história do esporte. Não sou muito ambiciosa. Tudo que quero da vida é uma pequena mansão coberta de hera, um pequeno jardim na frente, estendendo-se até onde a vista puder alcançar, uma modesta criadagem, dividida em pelotões, todas as minhas roupas arrumadas em ordem alfabética para cada dia da semana e para cada mês do ano, e… Fui forçado a interrompê-la.

– Meu anjo, existe uma pequena falha no seu plano – disse para ela. – Leander não é um dos melhores jogadores do time. Acho pouco provável que seja contratado por um salário nababesco.

– Isso não é justo! – protestou minha afilhada, fazendo beicinho. – Por que ele não é um dos melhores jogadores?

– Porque é assim que o universo funciona. Por que não se apaixona pelo melhor jogador do time? Ou, melhor ainda, por um jovem corretor de ações de Wall Street que tenha acesso a informações confidenciais?

– Já pensei nisso, tio George, mas gosto mesmo é de Leander. Existem ocasiões em que penso nele e digo para mim mesma: será que o dinheiro é tão importante assim?

– Que é isso, meu anjo! – exclamei, chocado. As meninas de hoje dizem cada bobagem…

– Mas por que não posso ser rica, também! É pedir muito?

Pensando bem, seria mesmo? Afinal, eu era amigo de um demônio. Um demônio pequeno, é verdade, mas com um grande coração. Certamente estaria interessado em colaborar para a consolidação de um amor verdadeiro, em levar a felicidade a duas almas cujos corações bateriam em uníssono enquanto pensavam em beijos mútuos e fundos mútuos.

Quando o chamei, usando a palavra mágica apropriada, Azazel ouviu a história com muita atenção. (Não, não posso lhe contar qual é a palavra. Você não tem nenhum senso de ética?) Como estava dizendo, ele me ouviu com atenção, mas não com a simpatia que eu estava esperando. Admito que o trouxe para a nossa realidade no momento em que tomava alguma coisa parecida com um banho turco, pois estava enrolado em uma pequena toalha e tremia dos pés à cabeça. Sua voz parecia mais fina e esganiçada do que nunca. (Na verdade, não penso que seja realmente sua voz. Acho que ele se comunica comigo por telepatia, mas a voz que imaginei ouvir era fina e esganiçada.)

– Que é basquete? – perguntou. – Algum tipo de esporte? Como se joga?

Tentei explicar, mas, para um demônio, Azazel às vezes consegue ser incrivelmente obtuso. Ficou olhando para mim como se eu não estivesse explicando cada detalhe do jogo com clareza transparente.

Afinal, propôs:

– Será que eu não podia ver um jogo de basquete?

– Claro que pode. Por coincidência, vai haver uma partida hoje à noite. Leander me deu uma entrada. Você pode ir no meu bolso.

– Ótimo – disse Azazel. – Pode me chamar quando for sair para o jogo. Agora, preciso terminar meu zymjig (certamente estava se referindo ao banho turco) – concluiu, antes de desaparecer.

Devo admitir que fico irritado quando alguém coloca seus interesses mesquinhos acima das questões transcendentais em que estou envolvido… o que me faz lembrar, amigo velho, que O garçom parece estar tentando atrair a sua atenção. Acho que quer lhe entregar a conta. Pegue-a, por favor, e deixe-me continuar a história.

Naquela noite, fui ao jogo de basquete levando Azazel no bolso. Para poder ver a partida, ele teve de colocar a cabeça para fora, o que teria causado uma verdadeira comoção se alguém estivesse prestando atenção em nós. Sua pele é vermelha e ele tem dois pequenos chifres na cabeça. Ainda bem que só a cabeça estava de fora, porque sua grossa cauda, de mais de um centímetro de comprimento, é simplesmente repugnante.

Eu mesmo não entendo muito de basquete, de modo que deixei por conta de Azazel entender o que estava acontecendo na quadra. Sua inteligência, embora demoníaca em vez de humana, é bastante desenvolvida.

Depois do jogo, ele me disse:

– Pelo que pude deduzir do comportamento dos indivíduos corpulentos, desajeitados e totalmente desinteressantes que se movimentavam na arena, o objetivo do jogo é fazer aquela bola esquisita passar por dentro de um aro.

– Isso mesmo – concordei. – Isso se chama fazer uma cesta.

– Então seu protegido se tornaria um ás deste jogo estúpido se conseguisse fazer a bola passar por dentro do aro todas as vezes que tentasse?

– Exatamente.

Azazel balançou a cauda pensativamente.

– Isso não deve ser difícil. Preciso apenas ajustar os reflexos do rapaz para que ele possa avaliar corretamente o ângulo, a força do arremesso…

Ficou em silêncio por um momento e depois acrescentou:

– Acontece que eu aproveitei o jogo para registrar o seu complexo de coordenadas pessoais… Sim, pode ser feito… Na verdade, já está feito. Daqui em diante, seu amigo Leander não terá a menor dificuldade para fazer a bola passar por dentro do aro.

Eu estava um pouco nervoso enquanto esperava o jogo seguinte. Não disse nada para minha afilhada Juniper, porque nunca havia recorrido aos poderes demoníacos de Azazel e não estava inteiramente certo de que fosse capaz de fazer tudo que afirmava. Além do mais, queria surpreendê-la. (No final das contas, fiquei tão surpreso quanto ela.)

Afinal, chegou o dia do jogo, e que jogo! A nossa faculdade, a Escola de Engenharia de Buraco Quente, em cujo time de basquete Leander desempenhava um papel tão apagado, estaria enfrentando os brutamontes da Universidade e Reformatório Al Capone, no que prometia ser um combate épico.

Mas ninguém esperava que fosse tão épico. O quinteto da Capone assumiu a dianteira na contagem, enquanto eu observava Leander atentamente. Ele parecia não saber direito o que fazer e a princípio suas mãos deixavam escapar a bola toda vez que tentava fazer uma jogada. Era como se seus reflexos tivessem sido tão alterados que não se sentia mais em condições de controlar os próprios músculos.

De repente, porém, foi como se tivesse se acostumado com o novo corpo. Agarrou a bola e ela pareceu escorregar-lhe das mãos… mas de que forma! Descreveu uma curva no ar e entrou na cesta sem tocar o aro.

                A torcida começou a comemorar, enquanto Leander olhava para a cesta, como se não estivesse entendendo nada.

A cena se repetiu uma segunda vez… e uma terceira… e uma quarta. No momento em que Leander tocava na bola, ela saltava no ar. Depois, descrevia uma curva elegante e entrava na cesta. Tudo acontecia tão depressa que não dava tempo nem para Leander fazer pontaria. Interpretando isso como uma demonstração de perícia, a torcida ficou ainda mais histérica.

Logo em seguida, porém, o inevitável aconteceu, e o jogo se transformou em um caos total. Os aplausos deram lugar às vaias; os alunos mal-encarados que torciam pelo reformatório Al Capone começaram a xingar a torcida adversária e várias brigas irromperam na arquibancada.

O que eu tinha me esquecido de explicar a Azazel, achando que era evidente, e que Azazel não percebera, era que as duas cestas de uma quadra de basquete não eram idênticas, que uma delas era a do time local e a outra dos visitantes, e que cada time tinha de acertar a bola em uma cesta diferente. A bola de basquete, como a lamentável ignorância de um objeto inanimado, se dirigia para a cesta que estivesse mais próxima do local onde Leander a segurara. O resultado era que muitas vezes Leander fazia cestas contra seu próprio time.

Ele continuou a insistir nessa prática suicida a despeito da& advertências que o técnico de Buraco Quente, Fritz Schmitt, mais conhecido como Alemão, proferia através da espuma que  lhe cobria os lábios. Schmitt cerrou os dentes em sinal de tristeza por ter de tirar Leander da partida e começou a chorar quando tiraram seus dedos da garganta de Leander para que o jogador pudesse ser removido da quadra.

Meu amigo Leander nunca mais foi o mesmo. Eu havia imaginado, naturalmente, que ele procuraria refúgio na bebida, tomando-se um bêbado filosófico e respeitável. Isso seria compreensível. Entretanto, ele se degradou mais ainda. Dedicou-se aos estudos.

Diante dos olhos desdenhosos, e às vezes até pesarosos, dos colegas de faculdade, passou a freqüentar as salas de aula, enfiou a cara nos livros e mergulhou nas profundezas sombrias da erudição.

                Mesmo assim, Juniper não o deixou. “Ele precisa de mim”, disse-me ela, com os olhos úmidos. Em um gesto de supremo sacrifício, casou-se com Leander logo que se formaram. Continuou com ele mesmo quando desceu até o fundo do poço, adquirindo um ignominioso doutorado em física.

Hoje em dia, ele e Juniper vivem em um pequeno apartamento de subúrbio. Ele ensina física e faz pesquisas na área de cosmogonia. Ganha menos de 60.000 dólares por ano, e aqueles que o conheceram quando era um sujeito respeitável cochicham às suas costas, em tom escandalizado, que está cotado para receber o prêmio Nobel.

Juniper nunca se queixa, mas permanece fiel ao seu ídolo caído. Jamais demonstrou sua decepção, nem por pensamentos nem por atos, mas não pode enganar seu velho padrinho. Sei muito bem que, de vez em quando, pensa com tristeza na mansão coberta de hera que jamais poderá ter e no jardim a perder de vista que permanecerá para sempre fo-ra do seu alcance.

– Esta é a história – disse George, enquanto recolhia o troco que o garçom havia trazido e copiava o valor da conta (para descontar do seu imposto de renda, suponho). – Se eu fosse você – acrescentou -, deixaria uma gorjeta generosa.

Obedeci automaticamente, enquanto George sorria e se afastava. Não me incomodei por ele haver ficado com o troco. Ocorreu-me que George lucrara apenas uma refeição, enquanto eu tinha uma história que podia contar como se fosse minha e me poderia render várias vezes o preço de uma refeição.

Na verdade, decidi continuar a jantar com ele de vez em quando.

Isaac Asimov

Pubilicado oringinalmente no livro Azazel, Editora Record, 1988.

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