É tempo de dormir – cansou-me a orgia;
Sinto a fronte em delírio, os membros lassos
E as pálpebras pesadas – vem, mulher,
Um beijo a mais... e estende-me teus braços...
Durmamos, que o dormir semelha a morte
E a lousa terreal sorri do pranto;
Vivos, a dor castiga-nos o peito,
Mortos, do nada envolve-nos o manto.
O sono é quase a morte, e o leito
É um túmulo – a cruz uma mulher –,
O orvalho dos chorões seu pranto falso,
A prece, o som dos beijos que ela der.
Chorar – isso que vale – nos licores
Afoguemos a dor que ferve n’alma,
No leito onde cairmos sem sentidos,
O corpo lasso – aí teremos calma.
Se vos irrita o estrondo do banquete,
O alarido da dança, o rir blasfemo,
Fugi – deixai-me só com meu delírio
Endeusar o prazer no brado extremo.
Félix Xavier da Cunha
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