Folclore europeu medieval e posterior
Muitos dos mitos que rodeiam os vampiros tiveram origem
durante a Idade Média. No século XII os historiadores e cronistas ingleses
Walter Map e William de Newburgh registaram episódios de mortos-vivos, embora
sejam raros os registos de seres vampíricos nas lendas inglesas após esta data.
O norueguês arcaico draugr é outro exemplo de uma criatura morta-viva com
semelhanças aos vampiros.
Os vampiros propriamente ditos surgem com a grande
divulgação do folclore da Europa Oriental no final do século XVII e início do
século XVIII. Estas lendas formam a base da tradição vampírica que mais tarde
penetrou na Alemanha e Inglaterra, onde foi posteriormente acrescentada e
popularizada. Um dos primeiros registos de actividade vampírica ocorreu na
região da Ístria, na actual Croácia, em 1672. Os registos locais referem o
vampiro Giure Grando que habitava nessa região, na aldeia de Khring, perto de
Tinjan, como causa de pânico entre os aldeões. Giure, que fora camponês, morreu
em1656, mas os aldeões locais afirmavam que retornara dos mortos e começara a
beber o sangue das pessoas, e a assediar sexualmente a sua viúva. O chefe da
aldeia ordenou que uma estaca fosse enterrada no seu coração, mas quando este
método não se revelou suficiente para mata-lo, usaram a decapitação com
melhores resultados.
Durante o século XVIII houve um frenesim de avistamentos de
vampiros na Europa Oriental, sendo frequentes os estacamentos e escavações de
sepulturas com o fim de identificar e matar mortos-vivos em potencial; até
mesmo funcionários do governo envolveram-se na caça e estacamento de vampiros.
Apesar de vulgarmente chamado de Iluminismo, durante o qual muitas lendas e
mitos populares foram debelados, a crença em vampiros cresceu dramaticamente
nesta época, resultando numa histeria colectiva que afectou a maioria da
Europa. O pânico teve início num surto de alegados ataques de vampiros na
Prússia Oriental em 1721 e na Monarquia de Habsburgo de 1725 a 1734, que se
propagou a outras localidades. Dois casos famosos de vampirismo, os primeiros a
serem oficialmente registados, envolveram os corpos de Pedro Plogojowitz e
Arnold Paole, da Sérvia. Plogojowitz era tido como tendo morrido aos 62 anos,
mas alegadamente voltou depois de morto para pedir comida ao filho. Quando o
filho recusou, foi encontrado morto no dia seguinte. Plogojowitz supostamente
voltou e atacou alguns vizinhos, os quais morreram por perda de sangue. No
segundo caso, Paole, um antigo soldado tornado camponês, o qual alegadamente
fora atacado por um vampiro alguns anos antes, morreu na ceifa do feno. Após a
sua morte começaram a morrer pessoas das redondezas, e acreditava-se largamente
que Paole tinha retornado dos mortos para depredar os antigos vizinhos. Outra
lenda sérvia famosa que envolvia vampiros girava em torno de um certo Sava
Savanović que vivia numa azenha, matando os moleiros e bebendo o seu sangue.
Este personagem foi mais tarde usado num conto escrito pelo escritor sérvio
Milovan Glišić, e no filme de terror sérvio de 1973 Leptirica, inspirado por
essa história.
Ambos os incidentes estão bem documentados: funcionários do
governo examinaram os corpos, escreveram relatórios oficiais, e publicaram
livros divulgados por toda a Europa. A histeria, comummente referida como a
"Controvérsia Vampírica do Século XVIII", causou furor durante uma
geração. A questão foi exacerbada por epidemias rurais de alegados ataques
vampíricos, sem dúvida causados pelo alto grau de superstição presente nas
comunidades aldeãs, com habitantes locais desenterrando corpos e, em alguns
casos, penetrando-os com estacas. Embora muitos estudiosos afirmassem nesta
época que os vampiros não existiam, e atribuíssem estes registos a enterros
prematuros ou raiva, asuperstição recrudesceu. Dom Augustine Calmet, um
respeitado teólogo e estudioso francês, coligiu um exaustivo tratado em 1746, o
qual era ambíguo no que respeitava à existência de vampiros. Calmet juntou uma
série de registos de incidentes vampíricos; numerosos leitores, incluindo tanto
um crítico Voltaire como vários demonologistas, que o apoiavam, interpretaram o
tratado como postulando a existência de vampiros. No seu Dicionário Filosófico,
Voltaire escreveu:
Esses vampiros eram cadáveres, que à noite saíam das suas
campas para sugar o sangue dos vivos, tanto pela garganta como pelo estômago,
após o que retornavam aos seus cemitérios. As pessoas que assim eram sugadas
definhavam, empalideciam, econsumiam-se; por outro lado os cadáveres sugadores
tornavam-se gordos, rosados, e exibiam um excelente apetite. E foi na Polónia,
Hungria, Silésia, Morávia, Áustria, e Lorena, que os mortos andaram pregando
estas partidas.
A controvérsia apenas teve fim quando a Imperatriz Maria
Teresa da Áustria enviou o seu médico particular, Gerard van Swieten, com o
objectivo de investigar as alegações sobre entidades vampíricas. Este concluiu
que os vampiros não existiam, e a Imperatriz fez passar leis proibindo a
abertura de campas e a profanação de cadáveres, anunciando o final das
epidemias vampíricas. Apesar desta condenação, o vampiro sobreviveu em
trabalhos artísticos e nas superstições locais
Crenças fora da Europa
África
Em diversas regiões de África é possível encontrar lendas e
tradições populares de seres com características vampíricas: Na África
Ocidental o povo Axânti fala de um ser de dentes de ferro que vive nas árvores,
o asanbosam, e os Ewés do adze, que pode tomar a forma de um vaga-lume e caça
crianças. A região do Cabo Oriental tem o impundulu, que pode tomar a forma de
um grande pássaro com garras e é capaz de invocar raios e trovões, e o povo
Betsileo de Madagáscar fala doramanga, um fora da lei ou vampiro vivente que
bebe sangue e come as aparas das unhas dos nobres.
Em Moçambique existe um mito persistente sobre "dragões
chupasangue" que atacam a população durante a noite. Já em 1498, quando
Vasco da Gama arribou ao porto de Quelimane, deparou-se com estranhos cultos,
que perduraram até bem dentro do século XVII, de seres sobrenaturais que saiam
durante a noite para se alimentarem do sangue de pessoas e animais,
causando-lhes por vezes a morte.83
Américas
O Loogaroo é um exemplo de como uma crença vampírica pode
ser o resultado de uma combinação de crenças, no caso uma mistura de
influências francesas e de Vodu africano, ou voodoo. O termo Loogaroo
possivelmente deriva do francês loup-garou, que significa "lobisomem",
e é comum na cultura das Ilhas Maurícias. No entanto, as histórias sobre o
Loogaroo estão difundidas pelas ilhas do Caribe e pela Luisiana, nos Estados
Unidos. A Soucouyant da Trinidad, e a Tunda e Patasola do folclore Colombiano,
são monstros femininos de tradição semelhante, enquanto que os Mapuches do
Chile meridional têm a cobra sugadora de sangue conhecida como Piuchén. Aloe
vera pendurado do avesso detrás ou perto de uma porta é tido como eficaz no
afastamento de seres vampíricos nas superstições sul americanas. A mitologia
asteca possui lendas sobre os Cihuateteo, espíritos com cara de esqueleto
pertencentes àqueles que morreram à nascença, que raptavam crianças e tinham
relações sexuais com os vivos, levando-os à loucura.
Durante o final do século XVIII e no XIX, a crença em
vampiros estava largamente difundida em partes da Nova Inglaterra, em
particular em Rhode Island e no Connecticut oriental. Existem muitos casos
documentados de famílias que desenterraram os seus entes queridos e lhes
removeram o coração, por acreditarem que o falecido era um vampiro responsável
pelas doenças e mortes que afligiam a família, embora o termo
"vampiro" nunca houvesse sido usado para descrever o morto.
Acreditava-se que a doença fatal da tuberculose, ou "consumação",
como era conhecida na época, era causada por visitas nocturnas de algum membro
da família que houvesse morrido ele próprio de consumação. O caso de suspeita
de vampirismo mais famoso, e de registo mais recente, foi o de Mercy Brown, que
morreu aos 19 anos em Exeter, Rhode Island em 1892. O seu pai, assistido pelo
médico da família, removeu-a da tumba dois meses após a sua morte, removeu-lhe
o coração e queimou-o até ficar em cinza.
Ásia
As modernas crenças vampíricas, enraizadas em folclore mais
antigo, propagaram-se por toda a Ásia, desde as lendas das entidades maléficas
do tipo ghoul encontradas no continente, aos seres vampíricos das ilhas do
Sudoeste Asiático.
A Ásia Meridional também desenvolveu as suas próprias lendas
vampíricas. O Bhūta ou Prét é a alma de um homem que morreu de morte apressada.
Esta vagueia pelas redondezas animando cadáveres à noite, e atacando os vivos,
muito ao modo doghoul.8 No norte da Índia existe o BrahmarākŞhasa, uma criatura
vampírica com a cabeç rodeada por intestinos e uma caveira, de onde bebe
sangue. A figura do Vetāla, presente nas lendas da Ásia Meridional, pode por
vezes ser descrita como "vampiro" .
Embora os vampiros marquem presença no cinema japonês desde
o final dos anos 1950, o folclore que lhes está associado tem origem ocidental.
No entanto, o Nukekubi, presente na cultura japonesa, é um ser cuja cabeça e
pescoço separam-se do corpo para voar em redor em busca de presas humanas
durante a noite.
Lendas de seres femininos semelhantes a vampiros que são
capazes de separar partes superiores do seu corpo também ocorrem nasFilipinas,
Malásia e Indonésia. Existem dois tipos principais de criaturas vampíricas nas
Filipinas: o mandurugo("chupador de sangue") do povo Tagalog, e o
manananggal ("auto-segmentador") dos Visayan. O mandurugo é uma
variedade de aswang que toma a forma de uma atraente jovem durante o dia, e à
noite ganha asas e uma longa e oca língua semelhante a um fio. A língua é usada
para chupar o sangue das vítimas durante o sono. O manananggal é descrito como
uma bela mulher mais velha que o mandurugo, capaz de cortar a parte superior do
seu torso de modo a voar durante a noite com enormes asas semelhantes às dos
morcegos, depredando mulheres grávidas durante o sono em suas casas sem que
estas se apercebam. Usa uma língua alongada em forma de tromba para sugar os
fetos dessas mulheres grávidas. Também gostam de comer as entranhas (em especial
o coração e o fígado) e a fleuma de pessoas doentes.
O Penanggalan malaio pode ser uma bela mulher tanto velha
como nova que obteve a sua beleza através do uso activo de magia negra ou
outros meios sobrenaturais, e geralmente descrita no folclore local como sendo
de natureza sombria ou demoníaca. Esta consegue separar a cabeça com as suas
presas aguçadas, a qual esvoaça pelas redondezas durante a noite em busca de
sangue, tipicamente de mulheres grávidas. Os malaios costumam pendurar
jeruju(cardos) à volta das portas e janelas das casas, na esperança que o Penanggalan
não entre por aí com medo de ficar com os intestinos presos aos espinhos. O
Leyak é um ser semelhante do folclore balinês. UmKuntilanak ou Matianak na
Indonésia, ou Pontianak ou Langsuir na Malásia,96 é uma mulher que morreu
durante a infância e tornou-se morta-viva, em busca de vingança e aterrorizando
as aldeias. Toma a forma de uma atraente mulher com longo cabelo preto que
esconde um buraco na parte posterior do pescoço, o qual usa para sugar o sangue
das crianças. O preenchimento desse buraco com o seu próprio cabelo terá o
efeito de afasta-la. Colocavam-se contas de vidro na boca dos cadáveres, e ovos
debaixo de cada axila, e agulhas nas palmas das mãos, por forma a impedir que
se tornassem num langsuir.
Jiang Shi (chinês tradicional: 僵屍 or
殭屍, chinês simplificado: 僵尸,
pinyin: jiāngshī; literalmente "cadáver rígido"), muitas vezes
chamados de "vampiros chineses" pelos ocidentais, são cadáveres
reanimados que vagueiam pelas redondezas, matando criaturas vivas para lhes
extrair a essência vital (qì). Dizem-se que são criados quando a alma de alguém
(魄 pò) não consegue abandonar o corpo do defunto. No
entanto, há quem coloque em causa a comparação entre jiang shi e vampiros, uam
vez que osjiang shi são geralmente criaturas irracionais sem vontade própria.
uma característica pouco habitual deste monstro é ter a pele coberta por uma
pelagem branco-esverdeada, possivelmente derivada de fungos ou musgocrescendo
sobre os cadáveres.
Era moderna
Apesar da descrença geral em entidades vampíricas, têm sido
registados avistamentos ocasionais de vampiros. De facto, ainda existem
associações dedicadas à caça ao vampiro, embora tenham sido formadas largamente
por motivos sociais.
No início de 1970, a imprensa local propagou rumores sobre
um vampiro que assombrava o cemitério londrino de Highgate. Caçadores de
vampiros amadores afluíram em largos números ao cemitério, e foram escritos
muitos livros sobre o caso, notavelmente por Sean Manchester, um habitante local
que esteve entre os primeiros a sugerir a existência do "Vampiro de
Highgate", e que mais tarde afirmou ter exorcizado e destruído todo um
ninho de vampiros naquela área. Em Janeiro de 2005 circularam rumores sobre um
atacante que teria mordido uma série de pessoas em Birmingham, na Inglaterra,
alimentando receios sobre um vampiro a vaguear pelas ruas. No entanto, a
polícia local afirmou que tais crimes nunca foram reportados, e que o caso
parece não ser mais que uma lenda urbana.
No Outono de 1977 foi registado em Belém do Pará, no Brasil,
o que foi descrito como uma estranha praga de vampirismo, envolvendo um
"vampiro luminoso" que teria ocasionado a morte de algumas pessoas
por perda de sangue, e ferimentos em várias outras.
Um dos mais notáveis casos de entidades vampíricas da era
moderna, o chupacabra de Porto Rico e do México, é descrito como sendo uma
criatura que se alimenta da carne e bebe o sangue de animais domésticos,
levando a que alguns o considerem um tipo de vampiro. A "histeria do
chupacabra" tem sido frequentemente associada a profundas crises
económicas e políticas, em particular em meados dos anos 1990.
Em Moçambique, na região de Quelimane, alegados incidentes
de vampirismo têm levado a que parte da população saia das suas casas e passe a
noite em edifícios públicos por medo dos "chupadores de sangue". Em
1996 a Rádio Moçambique noticiou o estranho caso de um cadáver que levantou-se
do túmulo e percorreu as ruas de Nampula, após o que se encontraram vários
cadáveres sangrados de pessoas e animais.
Alegações de ataques de vampiros varreram o país africano do
Malawi em finais de 2002 e inícios de 2003, com multidões apedrejando um
indivíduo até à morte e atacando pelo menos outros quatro, incluindo o
Governador Eric Chiwaya, baseados na crença que o governo estava em conluio com
vampiros.
Na Europa, onde muito do folclore vampírico teve origem, o
vampiro é considerado como um ser fictício, embora muitas comunidades tenham
acolhido e acarinhado a criatura por motivos económicos. Em alguns casos,
especialmente em pequenas localidades, a superstições sobre vampiros ainda
estão bem enraizadas, e avistamentos e relatos sobre ataques de vampiros
ocorrem frequentemente. Na Roménia, em Fevereiro de 2004, muitos parentes de
Toma Petre recearam que este se tivesse tornado num vampiro, e desenterraram o
seu corpo, extraíram o coração, queimaram-no e misturaram as cinzas com água
para que as pudessem beber.
Em 2006, um professor de física da universidade da Flórida
Central escreveu um artigo argumentando a impossibilidade matemática da
existência de vampiros, baseado na progressão geométrica. De acordo com o
artigo, se o primeiro vampiro tivesse aparecido a 1 de Janeiro de 1600, e se
tivesse alimentado uma vez por mês (que é menos que o que é representado no
cinema e no folclore), e se todas as vítimas se tornassem vampiros, em cerca de
dois anos e meio toda a população humana existente à época ter-se-ia tornado
vampira. O artigo não faz qualquer tentativa de resolver a questão da
credibilidade do pressuposto que toda a vítima de um vampiro se transforma
noutro vampiro.
O vampirismo e o estilo de vida vampírico representam também
uma parte relevante dos movimentos ocultistas actuais. O mito do vampiro, as
suas qualidades magickas e sedutoras, e o arquétipo de predador, expressam um
forte simbolismo que pode ser usado em técnicas que envolvam uso de ritual e de
energia, e em magick, podendo mesmo ser adoptada como sistema espiritual.
vampiro há séculos que faz parte da sociedade ocultista europeia, e também se
difundiu na subcultura americana há já mais de uma década, com forte influência
e mistura das estéticas neogóticas.
Nome colectivo
'Coven' ('Conciliábulo') tem sido usado como nome colectivo
para vampiros, possivelmente devido ao uso do mesmo tempo na subcultura Wicca.
Um nome colectivo alternativo é 'casa' de vampiros. David Malki, autor de
Wondermark, sugere em Wondermark #566 o uso do nome colectivo 'cave' nota 3 ,
como em "uma cave de vampiros."
Origens das crenças vampíricas
Têm sido sugeridas muitas teorias sobre as origens das
crenças em vampiros, tentando explicar a superstição - e por vezes histeria
colectiva - causada por vampiros. As hipóteses explicativas variam desde
enterramentos prematuros até à ignorância inicial sobre o ciclo de decomposição
após a morte.
Espiritualismo eslavo
Embora muitas culturas possuam superstições sobre
mortos-vivos comparáveis ao vampiro da Europa de Leste, o vampiro da mitologia
eslava é o que tem prevalecido no conceito de vampiro da cultura popular. As
raízes das crenças vampíricas presentes na cultura eslava baseiam-se em grande
medida nas crenças e práticas espirituais dos povos eslavos existentes antes da
sua cristianização, e no seu entendimento da vida após a morte. Apesar da falta
de registos protoeslavos pré-cristianismo que descrevam os detalhes da
"Antiga Religião", muitas crenças espirituais e rituais pagãos foram
mantidos pelos povos eslvos mesmo após a cristianização das suas terras. exemplos
dessas crenças incluem o culto dos mortos, espíritos domésticos, e crenças
sobre a alma após a morte. As origens das crenças vampíricas nas regiões
eslavas podem ser traçadas até à complexa estrutura da espiritualidade eslava.
Os demónios e espíritos serviam funções importantes nas
sociedades eslavas preindustriais, e eram considerados como sendo muito
intervenientes nas vidas e domínios dos humanos. Alguns espíritos eram
benevolentes e podiam ajudar nas tarefas humanas, outros eram daninhos e muitas
vezes destrutivos. Domovoi, Rusalka, Vila, Kikimora, Poludnitsa, e Vodyanoy são
exemplos dessas entidades. Estes espíritos eram considerados como tendo
derivado de antepassados ou determinados humanos já falecidos, e podiam
aparecer segundo a sua vontade sob várias formas, incluindo de diferentes
animais ou sob a forma humana. Alguns destes espíritos podiam ainda participar
em actividades malévolas, por forma a prejudicar os humanos, tais como
afogando-os, impedindo as colheitas, ou sugando o sangue do gado e por vezes
até dos próprios humanos. Desse modo, os eslavos eram obrigados a apaziguar
esses espíritos, por forma a prevenir que usassem o seu potencial para
comportamentos erráticos e destrutivos.
As crenças eslavas comuns denotam uma forte distinção entre
alma e corpo. A alma não é considerada como perecível. Os eslavos acreditavam
que após a morte, a alma viajaria para fora do corpo, e vaguearia pelas
vizinhanças e pelo antigo local de trabalho do defunto durante quarenta dias
antes da passagem final para a vida eterna. Por este motivo era considerado
necessário deixar aberta uma janela ou porta da casa, de modo a que a alma
pudesse entrar e sair a seu bel-prazer. Durante este tempo acreditava-se que a
alma tinha a capacidade de reentrar no corpo do defunto. Tal como os espíritos
atrás mencionados, a alma passageira tanto podia abençoar como causar destroço
entre a sua família e vizinhos durante os quarenta dias que duravam a passagem.
Após a morte do indivíduo, era feito um esforço considerável na correcta execução
dos ritos fúnebres por forma a assegurar a pureza e pacificação da alma durante
a sua separação do corpo. A morte de uma criança não baptizada, uma morte
violenta ou apressada, ou a morte de um grande pecador (como um feiticeiro ou
pecador), tudo isso eram motivos para causar impureza à alma após a morte. A
alma podia ainda tornar-se impura se ao seu corpo não fosse dado um
enterramento apropriado. Alternativamente, um corpo sem um funeral apropriado
poderia tornar-se susceptível à possessão por parte de outras almas e espíritos
impuros. Os eslavos temiam estas almas impuras devido ao seu potencial para
exercer vinganças.
Destas crenças profundamente arreigadas sobre a morte e alma
deriva a invenção do conceito eslavo do vampir. O vampiro era a manifestação de
um espírito impuro em possessão de um corpo em decomposição. esta criatura
morta-viva era considerada como vingativa e ciumenta em relação aos vivos, e
sedenta do sangue dos vivos, essencial para suportar a sua existência corporal.
Embora este conceito de vampiro exista em formas algo diversas pelos países
eslavos e alguns dos seus vizinhos não eslavos, é possível traçar o
desenvolvimento da crença em vampiros ao espiritualismo eslavo que antecedeu a
cristianização das regiões eslavas.
Patologia
Decomposição
Paul Barber no seu livro Vampires, Burial and Death
argumentou que a crença em vampiros resultava da tentativa por parte
dassociedades pré-industriais em explicar o processo de decomposição que,
embora sendo algo natural, era para eles inexplicável.
Por vezes o povo suspeitava de vampirismo quando um cadáver
não se parecia com a ideia que tinham do aspecto que deveria ter um corpo
desenterrado. No entanto, as taxas de decomposição variam de acordo com a
temperatura e composição do solo, e muitos dos sinais de decomposição são pouco
conhecidos. Isto levou caçadores de vampiros a concluir erradamente que um
corpo não havia sofrido qualquer decomposição ou, ironicamente, a interpretar
sinais de decomposição como sinais de vida após a morte. Os cadáveres incham à
medida que os gases resultantes da decomposição se acumulam no torso, e o
aumento de pressão força o sangue a derramar-se pela boca e nariz. Isto faz com
que o corpo pareça "roliço", "bem alimentado", e
"rosado" — alterações que são ainda mais evidentes caso o defunto
fosse magro ou pálido em vida. No caso de Arnold Paole, o corpo exumado de uma
mulher idosa foi julgado pelos seus vizinhos como mais roliço e saudável que o
que ela alguma vez fora em vida. O sangue perpassando do corpo dava a impressão
do corpo ter estado envolvido recentemente em actividade vampírica. O
escurecimento da pele era, do mesmo modo, resultado da decomposição. O
estacamento de um corpo inchado e em decomposição causaria o sangramento do
corpo, e forçaria o escape dos gases acumulados, o qual poderia causar um som
semelhante a um gemido à medida que os gases se moviam através das cordas
vocais, ou um som semelhante à flatulência quando passassem pelo ânus. Os
registos oficiais do caso de Pedro Plogojowitz referem "outros sons
selvagens que não mencionarei por certos respeitos".
Após a morte a pele e gengivas perdem fluidos e contraem-se,
expondo as raízes do cabelo, as unhas, dentes, e mesmo dentes que até então
estavam ocultos na mandíbula. Isto pode produzir a ilusão do cabelo, unhas e
dentes terem crescido após a morte. Num certo ponto, as unhas caem e a pele
escama, tal como registado no caso Plogojowitz — a derme e as partes inferiores
das unhas emergindo foram interpretadas como "nova pele" e
"novas unhas".
Enterramento prematuro
Foi também sugerido que as lendas sobre vampiros possam ter
sido influenciadas por indivíduos que foram enterrados vivos devido às
deficiências do conhecimento médico da época. Em alguns casos em que foram
reportados sons que emanavam de um caixão em particular, este foi mais tarde
desenterrado e foram descobertas marcas de unhas no interior, causadas pela
vítima tentando escapar. Noutros casos a pessoa bateria com a cabeça, nariz ou
face contra o caixão, e os ferimentos causados dariam a impressão de que teria
estado a se "alimentar." um problema desta teoria é a questão de como
alguém supostamente enterrado vivo conseguia manter-se vivo por um período de
tempo alargado sem comida, água e ar fresco. Uma explicação alternativa para os
ruídos é o barulho causado pelos gases ao escaparem durante a decomposição
natural dos corpos. Outra causa provável de serem encontradas campas em
desordem são osladrões de túmulos.
Contágio
O vampirismo da tradição popular tem sido associado a grupos
de mortes causadas por doenças misteriosas ou não identificadas, habitualmente
dentro da mesma família, ou pequena comunidade. A referência epidémica é óbvia
em casos clássicos como o de Pedro Plogojowitz e Arnold Paole, e mais ainda no
caso de Mercy Brown e de modo geral nas crenças vampíricas da Nova Inglaterra,
onde uma doença em particular, a tuberculose, estava associada aos surtos de
vampirismo. Tal como na forma pneumónica da peste bubónica, esta doença estava
associada ao rompimento do tecido pulmonar, causando o aparecimento de sangue
nos lábios.
Porfiria
Em 1985 o bioquímico David Dolphin propôs uma ligação entre
um raro distúrbio sanguíneo conhecido como porfiria e o folclore vampírico.
Reparando que essa condição é tratada com hemo intravenoso, Dolphin sugeriu que
o consumo de grandes quantidades de sangue poderia resultar de alguma maneira
no transporte do hemo através da parede do estômago e para a corrente
sanguínea. Desta maneira, os vampiros eram meros indivíduos sofredores de
porfiria que procuravam substituir o hemo e aliviar os sintomas Esta teoria tem
sido desmontada pelo meio médico, uma vez que as sugestões sobre os afectados
por porfiria desejarem a ingestão do hemo no sangue humano, ou que o consumo de
sangue possa atenuar os sintomas da doença, são baseados numa compreensão
errada da doença. Adicionalmente, constatou-se que Dolphin confundira os
vampiros fictícios (sugadores de sangue) com os do folclore, muitos dos quais
não eram conhecidos por beberem sangue. Do mesmo modo, foi estabelecido um
paralelo com a sensibilidade à luz do Sol por parte dos afectados por porfiria,
quando esta condição está associada aos vampiros fictícios, e não aos da
tradição popular. Em todo o caso, Dolphin não chegou a dar mais divulgação aos
seus trabalhos. Embora tenha sido posto de parte pelos peritos, a ligação entre
vampirismo e porfiria conseguiu a atenção dos média. e entrou ela própria no folclore da moderna
cultura pop.
Raiva
A raiva tem sido associada ao folclore vampírico. O Dr Juan
Gómez-Alonso, neurologista no Hospital Xeral emVigo, Espanha, examinou esta
possibilidade num relatório publicado no periódico Neurology A susceptibilidade
a alho e à luz pode resultar da hipersensibilidade, um dos sintomas da raiva. A
doença pode também afectar partes do cérebro, causando um distúrbio nos padrões
normais do sono (e assim um comportamento nocturno) e hipersexualidade. Lendas
antigas diziam que um homem não tinha raiva se conseguisse olhar para o seu
próprio reflexo - uma alusão à lenda sobre vampiros não terem reflexo. Lobos e
morcegos, que são muitas vezes associados a vampiros, podem ser portadores de
raiva. A doença pode também levar a um desejo de morder os outros e a espumar sangue
da boca.
Perspectiva psicodinâmica
Em 1931, no seu tratado On the Nightmare, o psicanalista
galês Ernest Jones constatou que os vampiros funcionavam como símbolos de
muitos desejos inconscientes e mecanismos de defesa. Emoções tais como amor,
culpa, e ódio alimentaram a ideia de um retorno dos mortos dos seus túmulos.
Por desejarem um reencontro com os entes queridos, os enlutados poderiam
projectar a ideia que o recém falecido deveria também desejar o mesmo,
resultando na crença sobre os vampiros da tradição popular e almas do outro
mundo visitarem em primeiro lugar os seus familiares, e em particular os
cônjuges. Em casos onde havia um sentimento de culpa inconsciente associado à
relação, no entanto, o desejo pelo reencontro poderia ter sido subvertido pela
ansiedade. Isto poderia levar à repressão, a qual Sigmund Freud ligou ao
desenvolvimento de terror mórbido. Jones
conjecturou que neste caso o desejo original por um reencontro (de natureza
sexual) poderia ser dramaticamente alterado: O desejo era substituído pelo
medo; o amor pelo sadismo; e o objecto ou ente amado substituído por uma
entidade desconhecida. O aspecto sexual poderá ou não estar presente. Alguns
críticos modernos têm proposto uma teoria semelhante: As pessoas identificam-se
com os vampiros imortais porque, ao fazê-lo, ultrapassam - ou ao menos escapam
temporariamente - o medo da morte.
A sexualidade inata do acto de sugar o sangue pode ser vista
na sua relação intrínseca com o canibalismo, e a ligação da tradição popular
com comportamentos semelhntes aos de Incubus. Muitas lendas relatam vários
seres que extraem outros fluidos das vítimas, denotando uma clara associação
inconsciente com o sémen. Finalmente, Jones constata que quando aspectos mais
normais da sexualidade são reprimidos, formas regressivas podem se expressar,
em particular o sadismo; Jones supôs osadismo oral como parte integral do
comportamento vampírico.
Interpretação política
A reinvenção do mito do vampiro na era moderna não ocorreu
sem uma certa dimensão política. O aristocrático Conde Drácula, sozinho no seu
castelo com alguns poucos serviçais dementes, surgindo apenas durante a noite
para alimentar-se dos seus súbditos camponeses, é simbólico da natureza
parasitária do Ancien régime. Werner Herzog, na sua obra Nosferatu: Phantom der
Nacht, fornece a esta interpretação política uma faceta irónica adicional
quando o protagonista Jonathon Harker, um solicitador da classe média, torna-se
o vampiro seguinte; desta maneira o burguês capitalista tornava-se na próxima
classe de parasitas.
Em Portugal o termo vampiro é usado com conotação política
desde pelo menos 1823, quando o Abade de Medrões dele se socorre para atacar os
inimigos da Constituição: "esses vampiros desatinados, que pertendem
restabelecer о antigo absolutismo, e tolher os nossos legítimos direitos."
Durante todo o século XIX o termo foi
amplamente usado neste contexto em textos políticos da época, descrevendo desde
a influência castelhana em Portugal até a situação da Índia Portuguesa como
sorvedouro da fazenda pública. Em 1963 o cantor e compositor de intervenção
português Zeca Afonso, no tema "Os Vampiros", usou a mesma acepção de
vampiro ao clamar contra a opressão do capitalismo, sendo a canção
consequentemente banida pela censura.
Psicopatologia
Alguns criminosos têm efectuado aparentes rituais vampíricos
sobre as suas vítimas. Os assassinos em série Peter Kürten e Richard Trenton
Chase foram ambos apelidados de "vampiros" pela imprensa de tabloide
após ter sido descoberto que bebiam o sangue das pessoas que assassinavam. Do
mesmo modo, em 1932, um caso de crime não resolvido em Estocolmo, Suécia, foi
alcunhado de "Crime vampírico", devido Às circunstâncias em que a
vítima morreu. Elizabeth Báthory, condessa húngara e assassina em série dos
finais do século XVI, tornou-se particularmente famosa em obras de séculos
posteriores, que a representavam banhando-se no sangue das suas vítimas por
forma a conseguir reter a beleza ou juventude.
Subculturas vampíricas modernas
O estilo de vida vampírico é um termo usado para definir uma
subcultura contemporânea, largamente inserida na subcultura Gótica, na qual se
consome o sangue dos outros como passatempo; inspirada pela fértil história
recente da cultura popular relacionada ao simbolismo dos cultos, aos filmes de
terror, às obras de ficção de Anne Rice, e aos estilos da Inglaterra vitoriana.
Manifestações activas de vampirismo real dentro das subculturas vampíricas
incluem tanto vampirismo relacionado com sangue, geralmente referido como
vampirismo sanguíneo, e vampirismo psíquico, ou o suposto acto de se alimentar
de energia pranica.
Morcegos-vampiros
Desmodus rotundus, o morcego-vampiro comum
Embora muitas culturas tenham lendas sobre os
morcegos-vampiros, apenas recentemente estes se tornaram parte integrante das
tradições populares sobre vampiros, quando foram descobertos na América do Sul
continental no século XVI. Embora não existam morcegos vampiros na Europa, os
morcegos nocturnos e corujas há muito que são associados com presságios e o
sobrenatural, embora isso se deva fundamentalmente aos seus hábitos nocturnos,
e na tradição heráldica inglesa moderna o morcego significa "estar ciente
dos poderes das trevas e do caos".
Todas as três espécies de verdadeiros morcegos-vampiros são
endémicas da América Latina, e não há nenhuma evidência que sugira que alguma
vez tenham tido parentes no Velho Mundo tanto quanto a memória humana conseguiu
registar. Por este motivo é impossível que que o vampiro da tradição popular
represente uma versão distorcida ou memória longínqua do morcego-vampiro. Estes
morcegos foram nomeados deste modo devido ao vampiro folclórico, e não o
inverso; o Oxford English Dictionary regista a sua presença na tradição popular
em Inglaterra a partir de 1734, muito antes da presença zoológica, que apenas
ocorreu em 1774. Embora a dentada do morcego-vampiro não seja geralmente
perigosa para o ser humano, estes morcegos têm sido conhecidos por se
alimentarem activamente de sangue humano, e presas de grande porte como gado,
deixando muitas vezes a sua imagem de marca na pele da vítima, a marca de
dentada de dois dentes afiados.
Um artigo sobre vampiros datado de 1842 e publicado no
semanário português Archivo Popular estabelece um paralelo entre o vampiro da
tradição eslava e as lendas sobre ataques de morcegos-vampiros na América
meridional - que seriam em grande quantidade, chegando a ser fatais -
divulgadas por Pedro Mártir, La Condamine e outros, considerando ambas
invenções fantasiosas e dignas de pouco crédito.
O Drácula da literatura transforma-se em morcego muitas
vezes no romance, e os próprios morcegos-vampiros são aí mencionados por duas
vezes. A produção teatral de 1927 Dracula seguiu os passos do romance ao
representar a transformação de Drácula em morcego, assim como o filme do mesmo
nome, onde Béla Lugosi também se transforma em morcego. A cena da transformação
em morcego seria novamente usada por Lon Chaney Jr. no filme de 1943 Son of
Dracula.
Na ficção moderna
O vampiro tem hoje lugar cativo na ficção popular. Esta
ficção teve início na poesia do século XVIII, continuando depois nos contos do
século XIX o primeiro e mais influente dos quais foi The Vampyre (1819), de
John Polidori, apresentando o vampiro Lord Ruthven. As façanhas de Lord Ruthven
foram continuadas numa série de peças de teatro sobre vampiros, nas quais era
oanti-herói. O tema do vampiro continuou uma série de publicações literárias de
terror conhecidas por penny dreadful, como Varney the Vampire (1847),
culminando com o romance de vampiros mais proeminente de sempre: Drácula de
Bram Stoker, publicado em 1897. Na ficção moderna, o vampiro tende a ser
representado como um vilão delicado e carismático. Ao longo do tempo, alguns
atributos hoje vistos como parte integrante do vampiro, foram sendo
incorporados no seu perfil: os dentes pontiagudos e a vulnerabilidade à luz
solar surgiram durante o século XIX, com Varney o Vampiro e o Conde Drácula
apresentando ambos dentes proeminentes, e Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens
(1922), de Murnau, temendo a luz do dia. A capa surgiu em produções teatrais
dos anos 1920, acrescentada de uma gola alta pelo dramaturgo Hamilton Deane por
forma a ajudar Drácula a 'desaparecer' em cena. Lord Ruthven e Varney eram
capazes de curar-se usando o luar, embora não exista qualquer menção a essa
característica nas tradições populares sobre vampiros. A imortalidade,
implícita embora não explicitamente documentada no folclore vampírico, é uma
característica com forte presença no cinema e literatura sobre vampiros, com
constantes alusões ao preço da vida eterna, nomeadamente a necessidade
incessante pelo sangue daqueles de quem já foi um igual.
Literatura
O vampiro ou morto-vivo fez a sua primeira aparição no campo
da literatura em poemas como The Vampire (1748) de Heinrich August Ossenfelder,
e Lenore (1773) de Gottfried August Bürger, Die Braut von Corinth (A Noiva de
Corinto (1797) de Johann Wolfgang von Goethe, no inacabado poema de Samuel
Taylor Coleridge, Christabel e emThe Giaour (1813) de Lord Byron.156 Byron foi
ainda creditado como responsável pela primeira peça de ficção em prosa sobre
vampiros, The Vampyre (1819), embora esta tenha sido escrita na realidade pelo
médico pessoal de Byron, John Polidori, que adaptou um uma história enigmática
e fragmentária que lhe foi contada pelo seu ilustre paciente. A própria
personalidade dominante de Byron, temperada pela sua amante Lady Caroline Lamb
no pouco elogioso roman-a-clef, Glenarvon (um fantasia gótica baseada na vida
desregrada de Byron), foi usada como modelo para o morto-vivo protagonista do
romance de Polidori, Lord Ruthven. The Vampyre foi um grande sucesso, e a obra
sobre vampiros mais influente do início do século XIX.9
Varney the Vampire de James Malcolm Rymer (também atribuído
a Thomas Preskett Prest) constituiu-se como um marco na literatura gótica de
terror de meados da era vitoriana, surgindo inicialmente entre 1845 e 1847 numa
série de panfletos geralmente referidos como penny dreadfuls, devido ao baixo
preço e ao conteúdo tipicamente macabro, sendo publicado como livro em 1847.
Varney the Vampire segue um claro estilo de suspense, usando uma intensa
imagística para descrever as horrendas façanhas de Varney. A história de
lesbianismo vampírico de Sheridan Le Fanu, Carmilla (1871), foi outra
importante contribuição para o género. Tal como Varney antes dela, a vampira
Carmilla é retratada de um modo algo compreensivo quando a compulsão inerente à
sua condição é abordada.
Nenhuma tentativa de representação de vampiros na ficção
popular foi tão influente ou tão definitiva como o romance Dráculade Bram
Stoker (1897). O retrato que faz do vampirismo enquanto doença de possessão
demoníaca contagiosa, com os seus matizes de sexo, sangue e morte, sensibilizou
a Europa vitoriana onde a tuberculose e a sífilis eram comuns. As
características vampíricas descritas na obra de Stoker fundiram-se a tradição
popular e dominaram-na, acabando por evoluir para o vampiro da ficção moderna.
Inspirado em trabalhos anteriores como The Vampyre e "Carmilla",
Stoker começou a pesquisa para o seu novo livro em finais do século XIX, lendo
obras como The Land Beyond the Forest (1888) de Emily Gerard e outros livros
sobre a Transilvânia e vampiros. Em Londres um colega referiu-lhe a história de
Vlad Ţepeş, o "Drácula da vida real", e Stoker imediatamente
incorporou essa história no seu livro. O primeiro capítulo do livro foi omitido
quando este foi publicado em 1897, editado em 1914 como Dracula's Guest.
Um dos primeiros romances "científicos" sobre
vampiros foi I Am Legend (1954), de Richard Matheson, usado depois como base
para os filmes The Last Man on Earth em 1964, The Omega Man em 1971, e Eu Sou a
Lenda em 2007.[carece de fontes]
O século XXI trouxe mais exemplos de ficção vampírica, como
a série Black Dagger Brotherhood, de J.R. Ward, e outros livros de vampiros de
grande popularidade e apelando ao público adolescente e jovem adulto. Estes
romances paranormais versando sobre vampiros e os géneros associados de
chick-lit vampírico e detective do oculto são actualmente um notável fenómeno
de popularidade e em constante expansão, com novas obras sobre o tema sendo
publicadas a todo o momento.160 The Vampire Huntress Legend Series de Leslie
Esdaile Banks, a série erótica Anita Blake: Vampire Hunter de Laurell K.
Hamilton, e a série The Hollows de Kim Harrison, retratam o vampiro numa série
de novas perspectivas, algumas delas sem qualquer relação com as lendas
originais.
O final do século XX assistiu a um recrudescimento nos
épicos de vários volumes sobre vampiros. O primeiro destes foi a série Barnabas
Collins (1966-71), da romancista gótica Marilyn Ross, vagamente baseado na
série de televisão americana contemporânea Dark Shadows. Esta obra definiu
ainda a tendência para representar os vampiros como heróis trágicos poéticos,
ao invés das representações mais tradicionais de símbolos do mal. Esta fórmula
foi seguida pela romancista Anne Rice na série de grande sucesso e influência Vampire
Chronicles (1976-2003). Os vampiros da série Twilight (2005-2008), de Stephenie
Meyer, não são afectados por alho ou crucifixos, nem pela luz solar. Richelle
Meaddesvia-se ainda mais do vampiro tradicional na série Vampire Academy
(2007-presente), baseando os romances em lendas romenas com duas raças de
vampiros, uma boa e outra má, assim como semi-vampiros.
No Brasil o vampiro marcou presença nos anos 1970 na
literatura de banda desenhada com o personagem Zé Vampir de Mauricio de Sousa.
Mais recentemente, em 2000, o escritor brasileiro André Vianco produziu uma
série de histórias de vampiros de sucesso, como Os Sete, Sétimo e O Vampiro
Rei.
Cinema e televisão
Considerada uma das figuras proeminentes do cinema clássico
de terror, o vampiro demonstrou ser uma proveitosa fonte de inspiração para as
indústrias cinematográfica e dos jogos de vídeo. Drácula desempenha um papel
principal em mais filmes que qualquer outro personagem excepto Sherlock Holmes,
e muitos filmes do início do cinema foram ou baseados no romance Drácula, ou
derivados a partir deste com poucas adaptações. Entre estes incluem-se o
emblemático filme mudo alemão de 1922 Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens,
realizado por F. W. Murnau e apresentando a primeira representação cinematográfica
de Drácula - embora os nomes e personagens imitavam intencionalmente os de
Drácula, Murnau não conseguiu obter permissão da viúva de Stoker para o fazer,
e foi obrigado a alterar muitos aspectos do filme. Além deste filme houve ainda
Dracula (1931), da Universal, com Béla Lugosi no papel do Conde, no que foi o
primeiro filme sonoro representando Drácula. Nesta década surgiram muitos
outros filmes de vampiros, sendo o mais notável A Filha de Drácula em 1936.
A lenda do vampiro cimentou-se na indústria cinematográfica
quando Drácula reencarnou para olhos de uma nova geração com a celebrada série
de filmes de terror Hammer Horror, com Christopher Lee protagonizando o Conde.
O sucesso do filme de 1958 Dracula, protagonizado por Lee, foi seguido de sete
sequelas. Lee retornou como Drácula em todas excepto duas, ficando bem
conhecido por esse papel.165 Na década de 1970 os vampiros diversificaram-se no
cinema, com trabalhos como Count Yorga, Vampire (1970), um conde africano, no
filme de 1972 Blacula, a produção da BBC Conde Drácula, com o actor francês
Louis Jourdan como Drácula e Frank Finlay no papel de Abraham Van Helsing, e um
vampiro ao estilo de Nosferatu na mini-série televisiva de 1979 Salem's Lot, e
uma reedição do próprio Nosferatu, intitulada Nosferatu: Fanthom der Nacht com
Klaus Kinski, no mesmo ano. Muitos filmes apresentaram vampiros femininos como
antagonistas, muitas vezes lésbicos, como em The Vampire Lovers da série Hammer
Horror, produzido em 1970 e baseado em Carmilla, embora o argumento ainda gire
em torno de um vampiro maléfico como personagem central.
O argumento do episódio piloto da série televisiva de 1972
de Dan Curtis Kolchak: The Night Stalker girava em torno do repórter Carl
Kolchak numa caçada ao vampiro em Las Vegas. Filmes posteriores mostraram uma
maior diversidade de argumentos, tendo alguns se focado no caçador de vampiros,
como Blade na série de filmes da Marvel Comics Blade, e o filme Buffy the
Vampire Slayer. Buffy, estreado em 1992, pressagiou a presença vampírica na
televisão, com uma adaptação para a série de sucesso do mesmo nome, e do seu
spin-off Angel. Outros ainda apresentaram o vampiro como protagonista, como o
filme de 1983 The Hunger, em 1994 Entrevista com o Vampiro e a que pode ser
considerada uma sua sequela indirecta, rainha dos Condenados, e a série de 2007
Moonlight. Drácula de Bram Stoker foi um notável filme de 1992, tornando-se o
filme de vampiros mais repulsivo até então produzido. Este aumento de interesse
em argumentos vampíricos levou à representação do vampiro em filmes como
Underworld e Van Helsing, e o filme russo Night Watch e da reedição da
mini-série televisiva 'Salem's Lot, ambos de 2004. A série Blood Ties estreou
na Lifetime Television em 2007, apresentando um personagem representado como
Henry Fitzroy, filho ilegítimo do rei Henrique VIII de Inglaterra tornado
vampiro, na Toronto actual, com uma ex-detective de Toronto como protagonista.
A série de 2008 da HBO, intitulada True Blood, usa uma aproximação sulista ao
tema vampírico. Outro programa popular sobre vampiros é The Vampire Diaries da
CW. A continuada popularidade do vampiro foi atribuída a dois factores: a
representação da sexualidade e o medo perpétuo da mortalidade.
A Rede Globo, no Brasil, exibiu duas telenovelas abordando o
tema: Vamp em 1991, e O Beijo do Vampiro em 2002.169 Na novela Caminhos do
Coração da Rede Record um dos personagens é um vampiro.
Em Portugal surgiram em 2010 duas séries televisivas sobre
vampiros: Lua Vermelha, da SIC, em formato de série juvenil e actualmente
(2011) em exibição, e Destino Imortal, uma mini-série de seis episódios da TVI.2
Jogos de vídeo
A imensa popularidade da plataforma Apple iOS como
plataforma de jogos levou à adopção de jogos como Vampire Rush pela audiência
de jogadores ocasionais. O jogo de role-playing Vampire: the Masquerade teve
grande influência sobre a ficção vampírica moderna e elementos da sua
terminologia, como embrace e sire, passaram a ser largamente usados. entre os
jogos de vídeo sobre vampiros mais populares contam-se Castlevania, uma
extensão do romance original de Bram Stoker Drácula, e Legacy of Kain. Os
vampiros aparecem ainda esporadicamente em outros jogos, incluindo The Elder
Scrolls V: Skyrim,onde, através de combate com um Vampiro, os jogadores podem
contrair a doença vampírica: “Sanguinare Vampiris". uma aproximação
diferente aos tema vampírico ocorre em num outro jogo da Bethesda, Fallout 3,
com "The Family". Aqui são representados como alguém que sofre de
desejos canibais, mas contentou-se com o sangue de modo a não se afundar numa
insanidade mental ainda maior.
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