Sim – os tufões da noite te despiram,
O inverno as folhas tuas requeimou;
Erguida e só no tope da montanha
És a imagem do tempo que passou.
Ontem altiva os ramos ostentavas,
Hoje curvada estás, pobre infeliz!
Quem vê-te assim, princesa destronada,
Alça uma prece a Deus, e baixo a diz.
Cada galho dos teus sabe uma história,
Também a sabe o tronco escodeado,
Como os ossos do morto, a cruz das campas,
E as ruínas do templo derrocado.
Ao som da tempestade – entre gemidos
Os furacões noturnos te adoraram;
És qual mulher que o gozo consumira,
Ou mágoas para a terra debruçaram!
Do monte a grimpa te serviu de sólio,
Rendeu-te o sol um preito de homenagem;
Terás por leito o val – e o viajante
Há de buscar em vão tua ramagem.
Quando te vejo assim, penso que sonhas;
Penso que tens uma alma, um coração,
– Que sentes como eu sinto, que estremecem
Tuas raízes no fundo deste chão!
Eras vistosa e de folhuda copa
E hoje… árvore seca e descarnada!
Quem sabe se amanhã, dobrando a fronte,
Tombarás por um raio fulminada!
Também da vida as folhas me caíram,
E já talhei tão moço o meu sudário:
Eu dormirei na vala dos cadáveres,
Tu no cimo do monte solitário.
José Bonifácio de Andrada e Silva, o Moço
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