Amo a noite medonha e tenebrosa
envolta no seu manto negro e triste;
amo quando os relâmpagos se cruzam
em campo
descoberto.
Amo dos elementos a desordem
nas asas de medonha tempestade;
amo o trovão ao longe ribombando,
amo o zunir
dos ventos.
Como Byron, também amo a tormenta,
quando solta em furor gritos irados;
amo vê-la depois em doce calma
a sorrir para
a terra.
Amo o furor do mar tempestuoso,
nas praias a arrojar violento as vagas,
e amo vê-lo sereno e gemebundo
beijando alvas
areias.
Amo o triste cipestre verde-negro
como guia fiel das sepulturas,
amo o silêncio infindo, amo o repouso
da região dos
mortos.
Amo por tudo a dor silenciosa
da Niobe infeliz petrificada,
amo o rolar por face macilenta
de lágrima
sentida.
Amo ouvir a rolinha no deserto
soltar suaves gemidos de saudade
amo sentir a flor na haste viçosa
ser ao vento
levada.
Amo o instante em que o astro da saudade
mira seu rosto lindo em lago ameno,
e amo vê-lo pálido e sombrio
divagar
solitário;
amo-o num céu azul, escampo e lindo,
inspirando tristezas e saudades,
e amo-o surgindo empós, entre arvoredos,
melancólico e
belo!
Amo o cândido lírio debruçado
nas águas de um ribeiro cristalino
a contar-lhje talvez ocultas mágoas,
ou queixas
escutando.
Amo, no ocaso, o dia moribundo
da terra a despedir-se entristecido,
amo-o depois, já morto e rociado
por lágrimas
da noite!
Amo num denso bosque o passaredo
cantar, gemer, voar em liberdade,
e amo tudo que enleva o pensamento
e nos
transporta a Deus!
Joaquina Meneses de Lacerda
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