quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Amo a noite medonha e tenebrosa...

Amo a noite medonha e tenebrosa
envolta no seu manto negro e triste;
amo quando os relâmpagos se cruzam
        em campo descoberto.

Amo dos elementos a desordem
nas asas de medonha tempestade;
amo o trovão ao longe ribombando,
        amo o zunir dos ventos.

Como Byron, também amo a tormenta,
quando solta em furor gritos irados;
amo vê-la depois em doce calma
        a sorrir para a terra.

Amo o furor do mar tempestuoso,
nas praias a arrojar violento as vagas,
e amo vê-lo sereno e gemebundo
        beijando alvas areias.

Amo o triste cipestre verde-negro
como guia fiel das sepulturas,
amo o silêncio infindo, amo o repouso
        da região dos mortos.

Amo por tudo a dor silenciosa
da Niobe infeliz petrificada,
amo o rolar por face macilenta
        de lágrima sentida.

Amo ouvir a rolinha no deserto
soltar suaves gemidos de saudade
amo sentir a flor na haste viçosa
        ser ao vento levada.

Amo o instante em que o astro da saudade
mira seu rosto lindo em lago ameno,
e amo vê-lo pálido e sombrio
        divagar solitário;

amo-o num céu azul, escampo e lindo,
inspirando tristezas e saudades,
e amo-o surgindo empós, entre arvoredos,
        melancólico e belo!

Amo o cândido lírio debruçado
nas águas de um ribeiro cristalino
a contar-lhje talvez ocultas mágoas,
        ou queixas escutando.

Amo, no ocaso, o dia moribundo
da terra a despedir-se entristecido,
amo-o depois, já morto e rociado
        por lágrimas da noite!

Amo num denso bosque o passaredo
cantar, gemer, voar em liberdade,
e amo tudo que enleva o pensamento

        e nos transporta a Deus!

Joaquina Meneses de Lacerda


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