quarta-feira, 24 de junho de 2015

Às Senhoras Fidalgas da Confraria de S. Tartufo

Podeis pecar, esplêndidas senhoras,
podeis cair da tentação no abismo.
Para o pecado velho há o baptismo,
e para os de hoje, ó santas pecadoras,

há-de haver umas rezas, uns bentinhos,
a bênção telegráfica de Roma.
Eia, envolvei-vos nesse casto aroma,
e embriagai-vos nos celestes vinhos!

Não tenhais medo; o Cristo que se adora
nas vossas perfumadas sacristias
é um Cristo que vive das orgias
e que da cruz sorrindo vos namora.

Podeis arder nos fogos da impureza;
decerto que o teólogo mais fino
dirá do vosso amor que ele é divino
e que sois tal e qual Santa Teresa.

Podeis pecar. Eu sei duns níveos braços
que envolveram um dia o seu vigário,
e não foram pregados no Calvário
porque os salvou Nosso Senhor dos Passos.

Podeis pecar. Ao dar a vossa esmola,
vi tremer de vergonha a caridade;
mas que importa que chore a castidade,
se está contente Inácio de Loiola?

Podeis pecar! Vós sois as carnes alvas,
sois a grave e terrível formosura:
amais no Carnaval os Marialvas,
e durante a Quaresma o padre-cura...

Podeis pecar, podeis; agora eu
já não tenho ninguém que me proteja;
deitou-me um sacristão fora da igreja

como um cão miserável, como ateu.

Sousa Viterbo


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