Eis uma lenda sobre a Lagoa de Paranaguá no Piauí. Dizem que
ela era pequena, quase uma fonte, e cresceu por encanto.
Foi assim que tudo aconteceu...
Vivia uma viúva com tês filhas. Um dia, a mais moça das
filhas dela adoeceu, ficando triste e pensativa. Estava esperando menino e o
namorado morrera sem ter tempo de casar com ela.
Com vergonha, descansou a moça nos matos e deitou o filhinho
num tacho de cobre, em seguida, sacudiu-o dentro da pequena fonte de água.
O tacho desceu e subiu logo, trazido por uma Mãe-d'agua, que
com raiva, Amaldiçoou a moça que chorava na beira. As águas foram subindo e
correndo, numa enchente sem fim, dia e noite, alagando tudo, cumprindo uma
ordem misteriosa.
Ficou a lagoa encantada, cheia de luzes e de vozes. Ninguém
podia morar na beira porque, a noite inteira, subia do fundo dágua um choro de
criança. O choro parou, e vez por outra, aparecia um homem moço, muito claro,
com barbas ruivas ao meio dia e com a barba branca ao anoitecer.
Barba Ruiva, homem encantado, que vive na lagoa de
Paranaguá, ao sul do Piauí. É alvo, de estatura regular, cabelos avermelhados.
Quando sai da água mostra as barbas, as unhas e os peitos cobertos de lodo e
limo.
Muita gente o viu e tem visto. Foge dos homens e procura as
mulheres que vão bater roupa. Agarra-as só para abraçar e beijar. Depois, corre
e pula na lagoa, desaparecendo. Nenhuma mulher bate roupa ou toma banho
sozinha, com medo do barba ruiva. Se um Homem o encontra, fica desorientado.
Mas o Barba Ruiva é inofensivo, pois não consta que fizesse mal a alguém.
Se uma mulher atirar na cabeça dele água benta e um rosário
sacramentado, ele será desencantado. Barba Ruiva é pagão, e deixa de ser
encantado sendo cristão.
Como ainda não nasceu essa mulher valente para desencantar o
Barba Ruiva, ele cumpre sua sina nas águas da lagoa.
Informações Complementares:
Nomes comuns: Barba Ruiva, Barba Branca, Urué, Barba Nova,
Cabeça Vermelha.
Origem Provável: Lenda popular no estado do Piauí, ao redor
da lagoa de Paranaguá, desde o século XIX. Por volta de 1830, já era conhecida.
Dizem que ele foi criado pela Iara, sendo então filho da Mãe
d'agua. Para o povo, a criança fabulosa não tem idade nem forma definida.
Nogueira Paranaguá escreve: "Consideram-no menino pela
manhã, homem ao meio-dia, e velho ao anoitecer" .
Muitas versões o descrevem assim: De dia ele aparece como um
menino à beira da lagoa, à tarde como um rapaz de barba ruiva, e à noite como
um senhor de barba branca. Algumas vezes fica dormindo à margem do lago e,
quando alguém se aproxima, ele pula na água e some.
No Rio Parnaíba, também no Piauí, existe o Cabeça de Cuia,
uma espécie de Barba Ruiva. Este no entanto é mais radical, e além de atacar
moças à beira do rio, devora-as vivas.
No rio São Francisco existe a lenda da moça de família rica,
que desejando ocultar o parto, atirou o recém-nascido ao rio. Um Dourado
(espécie de peixe), abocanhou-o sem o engolir, salvando-o dos outros peixes. E
ainda hoje conserva o menino, que não cresceu nem mudou desde aquele tempo.
E sobe e desce o rio, com o menino na boca, deixando-o
apenas para comer, e defendê-lo dos outros peixes. O Menino não cresce mas está
com os cabelos brancos.
Uma tradição do Panamá conta que uma linda moça afogou no rio
a criança que tivera, para esconder a falta que cometera. Como castigo do
perpétuo remorso a mãe ressurge num monstro, a terrível Tulivieja.
Os indígenas brasileiros tinham algumas lendas em que as
crianças sacrificadas davam nascimento às espécies vegetais mais necessárias à
vida selvagem. O milho nasceu do sacrifício de um guerreiro. A mandioca, de uma
criança, Mani dos Tupis, Atiolô, dos Parecis. Mas a presença da Mãe Dágua,
entidade desconhecida pelos nossos índios, afasta a possibilidade de um mito
ameríndio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário