segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A Lenda do Negro D’Água



        Conta a lenda que o Negro D'água ou Nego D'água vive em diversos rios. Manifestando-se com suas gargalhadas, preto, careca e mãos e pés de pato, o Negro D'água derruba a canoa dos pescadores, se eles se negarem de dar um peixe. Em alguns locais do Brasil, ainda existem pescadores que, ao sair para pescar, levam uma garrafa de cachaça e a jogam para dentro do rio, para que não tenham sua embarcação virada. Esta é a História bastante comum entre pessoas ribeirinhas, principalmente na Região Centro-Oeste do Brasil, muito difundida entre os pescadores, dos quais muitos dizem já ter o visto.




         Segundo a Lenda do Negro D'Água, ele costuma aparecer para pescadores e outras pessoas que estão em algum rio. Não se há evidências de como nasceu esta Lenda, o que se sabe é que o Negro D'Água só habita os rios e raramente sai dele, seu objetivo seria como amedrontar as pessoas que por ali passam, como partindo anzóis de pesca, furando redes dando sustos em pessoas a barco, etc. Suas características são muito peculiares, ele seria a fusão de homem negro alto e forte, com um anfíbio. Apresenta nadadeiras como de um anfíbio, corpo coberto de escamas mistas com pele.


Fantasma do Martim Cererê



          Como toda boa cidade grande, Goiânia também é recheada de lendas urbanas. Se fala muito de túneis antiaéreos que correriam por baixo do Centro da cidade, sobre o Teatro Goi­ânia para abrigar um bunker contra ataques nucleares e muitas outras coisas. Uma delas é que o Martim Cererê seria assombrado. O cen­tro cultural abrigava caixas d’água, que após desativadas foram usadas para torturar presos durante a Ditadura Militar e nem to­das saíram vivas de lá. Funcionários e frequentadores dizem ver constantemente as almas dos torturados vagando pelos teatros em que se tornaram as antigas caixas d’água.



Alma de Rodenbach

Alma feita de sombra e silêncio, dispersos
Numa grande emoção de saudade perdida,
Que trazes minha vida e meus nervos imersos
Na cadência brumal de tua dor sofrida...

E no exílio de claustro em que vivo esta vida,
Pus-me então a sentir e a rezar os teus versos,
Alma sentimental de angústia dolorida,
Alma feita de sombra e silêncio, dispersos...

É de dentro de tua emoção que eu contemplo
E vejo que tua alma antiga me parece
Um órgão a cantar tôda a vida de um templo!

E, como refletida através de vitrais,
Bruges acinzentada e morta me aparece,

Espelhando o silêncio à tona dos canais...

Rodrigo Otávio Filho


Alvíssima

Como a Noite, Senhor,é linda
Com seus cabelos de luar...
Não chores mais, Lua bemvinda
Que me fazes também chorar...

Sorrisos do luar d'uma Caveira oca,
Sorrisos do luar enfeitiçando os brejos
Sorrisos do luar a angelizar a boca,
Sorrisos do luar onde escondi meus beijos...

Orações do luar dos lábios de nós ambos,
Orações do luar que os astros não rezaram,
Orações do luar a consagrar os tambos,
Orações do luar, das almas que noivaram.

Cabelos do luar, aveludados, frios,
Cabelos do luar em tranças latescentes;
Cabelos do luar — alvíssimas serpentes,
Cabelos do luar banhando-se nos rios...

Aromas do luar em revoadas francas,
Aromas do luar, a perfumar o céu...
Aromas do luar, sonâmbulos ao léu,
Aromas do luar, por noites todas brancas...

Brancuras do luar dispersas pelos montes...
Brancuras do luar — finos lençois de gelo...
Brancuras do luar, olhai o sete estrelo,
Brancuras do luar, a namorar as fontes...
        
Veludos do luar tecidos pela lua,
Veludos do luar, de lírios e de rosas...
Veludos do luar, ó vestes preciosas
Veludos do luar vestindo a noite nua...

Trémulos de luar — litanias peregrinas,
Trémulos de luar — ó harmonias cérulas,
Trémulos de luar, nas bocas aspérulas
Trémulos de luar, e lábios das boninas...

Tristezas do luar caindo-nos no peito,
Tristezas do luar, como um dobrar profundo...
Tristezas do luar anestisiando o Mundo,
Tristezas do luar, em lágrimas desfeito...

Lágrimas do luar da Lua aventureira,
Lágrimas do luar, da débil flor dos linhos...
Lágrimas do luar da mágua derradeira,
Lágrimas do luar, de moços e velhimhos...

Saudades do luar, na rama dos ciprestes,
Saudades do luar, há mochos a cantar...
Saudades do luar, são almas a chorar...
Saudades do luar, as podridões agrestes...

Velhinhos corações a verter sangue e máguas,
Velhinhos corações de mocidade negras,
Velhinhos corações — doridas toutinegras,
Velhinhos corações aos tombos pelas frágoas.

Vamos todos pedir à Lua sacrossanta
Na aspiração do Amor, na comunhão do Bem
Que o seu bendito olhar, o seu olhar de Santa,

Nos abençõe agora e para sempre amén!

José Duro


Além da Campa


N'um povo, perto de Cintra,
foi o reverendo prior
em fria cova depôr
o cadaver d'um pelintra
mesmo ao pé d'um seu crédor.

Apenas se viram juntos
por toda a vida sem fim
romperam n'um tal chinfrim
que, dizem velhos defuntos,
ser virgem um caso assim.

"Vossê pague! ai que vae torta!"
gritava o crédor. - Com quê? -
gemia o outro. - Não vê
que entrei nú naquela porta
porque nú me poz vossê?! -

E n'este rosnar eterno,
n'este diz tu direi eu,
o crédor, que era judeu,
enreda o outro n'um inferno
como o inferno em que viveu.

Se em meu derradeiro instante
eu tiver crédor voraz,
permite, ó Deus, se te apraz,
que por cá fique o tratante

p'ra que eu, morto, viva em paz.

Francisco Palha


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Uma homenagem ao Wes Craven que faleceu

Wes Craven (Cleveland, Ohio, 2 de agosto de 1939 — Los Angeles, 30 de agosto de 2015 ) foi um realizador, produtor, argumentista e editor de cinema norte-americano, célebre por ter criado as famosas séries de filmes de terror Pânico e A Hora do Pesadelo.


Morreu em sua casa, em Los Angeles, vítima de câncer no cérebro. wes fez seu primeiro filme em prol da guerra fria que estava tendo naquele tempo,assim tentado minimizar a violência e impotencia,focou por muito tempo o publico adolescente,A proposta era explorar as ações de pessoas normais diante o terror escondido em extremas situações.E considerado o pai de terror por expor os melhores filmes,e dar vida a varios personagens em hollywood .Era um grande idealizador,graduado na faculdade de literatura inglesa,psicologia,filosofia,e Escrita E foi professor de humanidade na universidade de Clarkson em Postcam (Nova york) e como professor de inglês na faculdade de Westminster antes de deixar tudo pelo cinema, um trabalho no qual começou como editor de som após trabalhar um tempo como taxista. Teve sua primeira oportunidade em (1972) com o filme "aniversario macabro"


Alguns filmes

 2006Paris, Te Amo (segment "Pere-Lachaise") 
 2005Vôo Noturno 
 2005Amaldiçoados 
 2000Pânico 3 
 1997Pânico 2 
 1996Pânico 
 1992Nightmare Cafe (TV Series) (1 episode)
 1990Night Visions (TV Movie) 
 1985-1986Além da Imaginação (TV Series) (5 episodes)
Her Pilgrim Soul/I of Newton (1985) ... (segment "Her Pilgrim Soul")
Act Break/The Burning Man/Dealer's Choice (1985) ... (segment "Dealer's Choice")
Wordplay/Dreams for Sale/Chameleon (1985) ... (segments "Chameleon", "Wordplay")
Shatterday/A Little Peace and Quiet (1985) ... (segments "A Little Peace and Quiet", "Shatterday")
 1986Abertura Disneylândia (TV Series) (1 episode)
Casebusters (1986)
 1985Um Frio Corpo sem Alma (TV Movie) 
 1984Convite Para o Inferno (TV Movie) 
 1978Verão do Medo (TV Movie) 
 1975The Fireworks Woman (as Abe Snake) 


SCP – 1981


Item: #SCP – 1981

Classificação do objeto: Seguro

Procedimentos de Contenção Especial: SCP-1981 deve ser mantido em um local seguro de vídeo no arquivo de mídia da área .... Durante o uso, SCP-1981 não deve ser retirado de sua proteção ou ser exposto a nenhuma fonte magnética forte. Um sistema de Video System da Betamax e uma televisão analógica foram disponibilizados na sala de observação 02, na área ..., assim como os equipamentos de gravação.

Descrição: SCP-1981 é uma fita Betamax padrão. ‘’Ronald Reagan Cortado Enquanto Discursava’’ foi escrito a mão, em um adesivo, com caneta. Análises de laboratório indicavam que a SCP-1981 era feita de material comum, e os números de fábrica correspondiam a fitas cassetes produzidas em 1980. SCP-1981 foi encontrada inicialmente por um responsável pelos arquivos do Ronald Reagan Presidential Library em 1991, que ao assistir a fita, alertou a polícia, com o intento de achar o criador por acusações de obscenidade. Uma investigação de baixo nível foi conduzida pela polícia, até um ponto que a fundação foi alertada e pegou a fita.

Amnésicos (remédios para indução de amnésia) de Classe A foram administrados antes que ... fosse notificado. Investigações futuras mostraram que não foram achados traços da origem da SCP-1981

A fita parece ser uma gravação caseira do antigo presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, fazendo seu discurso do ‘’Império do Mal’’ para a Associação de Evangélicos no Sheraton Twin Towers Hotel, em Orlando, Flórida, em 8/3/1983. No entanto, em 1 minuto e 10 segundos, o discurso começa a divagar de forma pesada, não se parecendo com nenhum discurso antes feito por Reagan. Começando em, aproximadamente 5 minutos, múltiplas incisões, lacerações e feridas de penetração podem ser vistas, sendo feitas lentamente, mas sem nenhuma indicação da fonte dessas feridas. Mesmo com as múltiplas feridas que incapacitariam uma pessoa normal, Reagan continuava a dar seu discurso até suas cordas vocais serem totalmente arruinadas ou até a fita ir a estática, em 22:34 min.

Mesmo rebobinando a SCP-1981 e iniciando o playback da fita, Reagan faria um discurso totalmente diferente ao anterior, algumas vezes mais radical que o outro. Os tópicos incluíam tortura, estupro de crianças e rituais de sacrifício. E os traumas causados em no presidente também se mostravam divergentes, com ele sendo empalado, mutilação genital e ..., sendo todas observadas. Em uma das reproduções, é possível ver uma figura vestida de roupas pretas e um capuz cônico, que foi substituído por um dos membros de imprensa de Ronald, mais pra frente chamado de SCP-1981-1. A importância da aparição dele ainda é um mistério.

Os discursos feitos por Reagan eram muita das vezes, incoerentes e sem a mínima estrutura, e fortemente compostas por anedotas e parábolas. Mas ocasionalmente, ele fazia referências a eventos futuros, nos quais ele não poderia saber, como os ataques de 11 de Setembro, o resultado das eleições russas de 2008 e .... Por isso, tempo e esforços rigorosos foram feitos para gravar cada playback da fita. No entanto, múltiplas tentativas de gravar a fita em outra fita Betamax resultaram em falha, mas câmeras conseguiram gravar os playbacks individuais. Qualquer observação feitas e gravadas da SCP-1981, devem ser entregues para o Dr. B(censurado), supervisor do projeto.

Anos de interferência magnética danificaram seriamente a qualidade de sinal da SCP-1981, dificultando a busca por informação dos playbacks. Além disso, a natureza pesada das mutilações feitas em Reagan foram descritas como ‘’Extremamente perturbadoras’’, e por isso é recomendado que qualquer funcionário se sentindo doente após o playback deve visitar a área de psiquiatria para uma avaliação de nível 3.

Como Reagan estava vivo no tempo da recuperação do SCP-1981, uma rede de segurança foi criada para eliminar todas as ligações entre o presidente e a fita. Nenhuma ligação existente foi encontrada, porém, Reagan frequentemente reclamava de pesadelos antes do seu estado mental se degradar por completo.



Transmissões:

00:17:24 - Reagan: A renovação dos valores tradicionais que têm sido os tendões de força deste país. Uma pesquisa recente realizada por um pesquisador com sede em Washington concluiu que os americanos eram muito mais dispostos a participar de canibalismo do que eles têm nos últimos cem anos. América é uma nação que não vai sofrer abominações de ânimo leve. Sete. E esse é o núcleo do despertar. Doze. Dezoito. Vamos parar al-Qaeda. Agora lá vai você de novo.

00:18:02 - Reagan: Pela primeira vez, subiram, e vejo que estão sendo consumidos. Eu vejo círculos que não são círculos. Milhares de milhões de almas mortas dentro de contenção. Apesar de ter comido o tecido moral do país, transformando corações em imundície. Eu sou de um nível acima do reino humano. O que é que deu? Um sorriso falso que condena toda uma nação.

00:18:43 - Não há esperança.

00:18:59 - [Aplausos]

00:19:15 - [Reagan estremece as costas, como se estivesse sentindo dor severa. Vários novas lacerações começam a se manifestar em toda cavidade ocular, bem como furos que aparecem para penetrar testa e têmporas. Restante do braço esquerdo está agora cortado.]

00:19:59 - Reagan: Mais consenso provou que mais da metade de todos os americanos, eu ainda odeio. Comido por todo vazio. O vazio. A tristeza. A escuridão. A escuridão.

00:20:30 - [Risos continua até que o sinal se degrada em estática]

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00:12:32 - Reagan: Eu fui para as siderúrgicas do Alasca, e os campos de milho de Nebraska. Eu vi os escritórios abandonados do Google queimar com as janelas tapadas e os funcionários dentro deles. Eu vi as casas onde eles cortam-se os pequenos bebês. De costa a costa brilhando eu tenho andado vazio para baixo babando caminho A carne em decomposição de falsa moralidade envenenando nossos filhos. Eu já estive no topo da montanha de terra ganancioso, olhando para o nosso belo poço piedoso, a rebentar com as vastas mãos de desamparo. E você sabia que o que eu vi?

00:13:57 - Inferno

00:14:20 - [A platéia explode em riso]

00:14:32 - [voz abafada pode ser ouvida por trás da câmera]

00:14:45 - Reagan: Agora lá vai você de novo!

00:14:52 - [Risos procede a reduzir]

00:15:00 - Reagan: Mas realmente agora, vivemos em uma época feliz. Este é um momento feliz. O tempo está do nosso lado. Um ponto em nove economiza tempo.

00:15:40 - Não são as suas verdades e há minhas verdades. Há conhecidos, desconhecidos conhecidos e desconhecidos . Alguns deles são na platéia agora mesmo!

00:16:02 - [Nesta fase, as feridas infligidas ao pescoço de Reagan parecem ser tão graves que não podem mais suportar a cabeça. Discurso degenera em gargalhos como Reagan violentamente se empurra para a frente, a coluna que está sendo cortada de forma limpa e a cabeça só sendo vagamente ligada ao corpo por fios de tecido muscular. Corpo permanece assim pelos próximos três minutos, e continua o gesto como se a coluna vertebral fosse ser retirada da cavidade do pescoço, antes de finalmente entrar em colapso. Fita degrada em estática a 22:34]

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Na ultima transmissão apareceu apenas uma imagem e depois uma mensagem ficou congelada


Texto original do SCP
Traduzido pelo TheSilentWrite

Amargura

Oh! não me pergunteis por que motivo
Pende-me a fronte ao peso da amargura,
Quando um suspiro trêmulo, aflitivo,
Sobre os meus lábios pálidos murmura.

Quando ao fundo do lago a pedra desde,
Globo de espuma à flor do lago estala:
Assim é o suspiro: ele aparece,
Porque no coração cai dor que o rala.

Do lago a face lisa espelha flores,
No fundo a vista não divisa o ceno:
Assim dentro do peito escondo as dores,
Mandando aos lábios um sorriso ameno.

Mas quando uma aflição acerba e crua
Mais que um rochedo o coração me oprime,
Quando nas chamas do sofrer estua
Como no incêndio o ressequido vime;

Não choro, não! - De angústias flagelado
Um queixume sequer eu não profiro;
Descai-me a fronte, penso no meu fado...

Oh! não me pergunteis por que suspiro!...

Aureliano Lessa



Ambos se amavam!...

Ambos se amavam, contudo
Nenhum ao outro o dizia,
Viam-se como inimigos!...
E um por outro morria.

Separam-se enfim!... nos sonhos
Talvez um ao outro via;
Já tinham morrido n'alma....

Nenhum do outro o sabia!


Heinrich Heine



Amemo-nos sem termo nem medida.

Amemo-nos sem termo nem medida,
pois que só para o amor temos nascido...
Vive por nosso amor! - é o meu pedido,
pois sem tal bem, que valeria a vida?

E se depois da vida já perdida
ainda se amasse... Eu, tendo já morrido
pediria outro amor - o bem querido -
para poder seguir gozando a vida.

Gozemos pois, tal como certamente
o primeiro casal no Éden, ao ser
aconselhado assim pela serpente.

Que nos perdemos por amar se diz...
Tolice! Outra é a verdade, podes crer:

Só quem não ama sente-se infeliz!

Pietro Aretino


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Episódio cancelado - A morte do Pica Pau

O episódio “O Afanador de Gasolina” ("The Gas Bandit"), do Pica Pau, é o último episódio da fase “Pica Pau Biruta”. Depois dele, começou a fase do Pica Pau “light”, mais fofinho.

O motivo dessa mudança foi a pressão que muitos pais dos EUA fizeram sobre os estúdios Universal. O Pica Pau biruta era considerado uma apologia às drogas, além de ter provocado inúmeros casos de pesadelos entre crianças.

Mas o criador do personagem, Walter Lantz, não concordou prontamente com a mudança. Como naquela época, início dos anos 40, o Pica Pau ainda estava longe do sucesso que conseguiria posteriormente, Lantz disse que preferia cancelar o personagem a vê-lo se transformar em algo completamente diferente do planejado.

O autor conhecia as artimanhas dos estúdios, e sabia que a única maneira de realmente pôr um ponto final no assunto seria matar o personagem. Escreveu o roteiro, reuniu um pequeno grupo de animadores de sua confiança e gravou a história. Era exatamente “O Afanador de Gasolina”. Mas em uma versão um pouco diferente do que a conhecemos.

Dias antes da exibição desse episódio, a Universal ofereceu a Lantz uma compensação financeira bastante vantajosa, que finalmente fez o criador aceitar continuar com o personagem.

O episódio da morte do Pica Pau teve que ser, então, reformulado às pressas. 95% dele pôde ser aproveitado, tendo sido modificado apenas o final. Para ser mais exato, também foi acrescentada uma fala no começo do episódio, quando o Pica Pau diz "I'm a necessery evil" ("eu sou um mal necessário", que na dublagem ficou "eu sou um diabo necessário"). Isso mostra claramente o ponto de vista de Lantz sobre as mudanças que viriam: eram um "mal necessário".

A fita do episódio original, no qual o personagem morre de verdade, era fácil de ser achada entre os inúmeros arquivos da empresa de Walter Lantz. Isso mudou no final da década de 50, quando a popularidade do Pica Pau aumentou incrivelmente. O criador resolveu então escondê-la, por saber como ela poderia ser frustrante para os fãs.

Em meados dos anos 90, um grupo de estagiários foi convocado para vasculhar os antigos arquivos dos estúdios de Walter Lantz. O objetivo era achar algumas animações raras e fazer um VHS comemorativo com elas. Uma das fitas encontradas era a do episódio cancelado. Após assistirem, seis dos estagiários pediram desligamento do projeto, assustados e decepcionados com o que viram. Os outros a encaminharam para o coordenador, que imediatamente guardou a fita para si e pediu que todos esquecessem “aquela bobagem”. Não se sabe o que ele fez com ela.

O coordenador não sabia que um dos estagiários havia dado um jeito de gravar uma cópia precária do episódio, filmando a tela do monitor com uma câmera amadora. A gravação foi digitalizada e chegou a ser divulgada na internet. Contudo a rede mundial ainda não tinha a agilidade de repercussão de hoje, e a empresa de Lantz conseguiu com êxito estancar a circulação do vídeo.

Voltando aos roteiros: Curiosamente, na versão editada (que foi ao ar) o Pica Pau de fato “morre” após uma grande explosão, virando um anjo. No entanto isso é mostrado de uma forma “leve”, que, somada ao estilo non-sense do personagem, em nenhum momento despertou no público a impressão de que ele pudesse de fato ter morrido, chegado ao fim.


Na versão cancelada, a sequência é diferente:

Após a explosão, a câmera mostra o Pica Pau e o policial em cima de uma pequena nuvem, um ao lado do outro, ajoelhados, olhando para a Terra embaixo, chorando. Não têm asas nem auréolas. São desenhados em cores de leve transparência, que indicam serem dois espíritos. O cenário é todo em cores acinzentadas, como se estivesse prestes a cair um temporal. A trilha de fundo é profundamente triste, depressiva. É colocada em baixo volume. A intenção é dar total ênfase ao choro deles.

A câmera corta para um close do rosto do policial. As mãos estão na cabeça, arrancando em desespero pedaços de pele. Seu choro é realmente sofrido, de uma veracidade perturbadora. Cortam a imagem para a terra, onde se vê o corpo do policial em pedaços, como um brinquedo desmontado. Todos os membros e a cabeça estão separados do tronco. Não há sangue ou vísceras, mas isso não alivia o impacto da cena. Corta para a cabeça. A boca está entreaberta, dela escorre um pequeno filete de saliva; os olhos, bem arregalados, têm as pupilas muito pequenas, sem brilho, fitando o nada.

Volta para a imagem dos dois chorando na nuvem. Ela dura exatos 6 segundos, e cortam para um close do rosto do espírito do Pica Pau. Seu choro não apenas é perturbador, como parece ser um desesperado ataque de alguém que está perdendo a sanidade mental (nada mais apropriado para um biruta). Outro ponto que chama a atenção é que a voz do choro parece ter sido feita por outra pessoa, que não o dublador original do personagem. Especula-se fortemente que seria a voz do próprio Walter Lantz. Essa hipótese, embora forte e coerente, nunca foi confirmada.

Cortam para o corpo do Pica Pau, que também está em pedaços. Em seguida, mostram a cabeça em close. Vê-se bico aberto, faltando um pedaço da ponta e com a língua para fora. Os olhos arregalados mostravam as pupilas grandes como sempre, mas com uma diferença fundamental: as íris, em vez de verde como costumavam ser, estavam totalmente negras.

Diminuem aos poucos o volume da música triste, até desaparecer. Escuta-se apenas o choro do Pica Pau (o choro de Lantz?) acompanhando a imagem da cabeça. A tela vai escurecendo até ficar completamente preta, ainda se escutando o choro do espírito.

Aparece o “The End”.




A Lenda do Quibungo



O Quibungo é uma espécie de Bicho-Papão negro, um visitante africano inesperado que acabou por se domiciliar na Bahia, onde passou a fazer parte do folclore local.

Trata-se de uma variação do Tutue da Cuca, cuja principal função era disciplinar pelo medo as crianças rebeldes e relutantes em dormir cedo.

Apesar de ser um ente fantástico das nossas tradições, não se compara como mito aoMapinguari, o Capelobo e o Pé de Garrafa, pois trata-se apenas de um personagem, uma figura, um ponto de referência dentro da literatura oral afro-baiana.

O Quibungo faz parte dos contos romanceados, sempre com um episódio trágico ou feliz mas sem data que o localize no tempo. É umVelho do Saco para os meninos, um temível devorador de crianças, especialmente as desobedientes. Sem dúvida um meio eficaz de cobrar disciplina pela imposição do pavor.
Não há testemunho ocular de sua existência, mas, em meio ao universo infantil, existe como coisa concreta. Dentro dessas estórias tradicionais, contadas para as crianças inquietas, ou teimosas, ele se arrasta como um fantasma faminto, como um feroz devorador de meninos e meninas que desgrudam da guarda dos seus pais.


É uma figura da literatura oral afro-brasileira, com sua bestial voracidade, sua imensa feiúra, brutalidade e inexistente finaldade moral. Em quase todos os contos em que aparece o Quibungo há versos para cantar. Esse detalhe lembra as estórias contadas, declamadas e cantadas que ainda hoje podemos ouvir na África equatorial, setentrional e na China, ao ar livre, para um auditório sempre renovado das ruas e praças. É o famoso teatro dos bonecos ou marionetes, onde personagens encenam dramas épicos ou outros de finalidades morais e educativas, retratando sempre de uma forma lúdica e didática os problemas das comunidades.

Em Alger ou Xangai, e mesmo nos países nórdicos, vivem ainda hoje estes artistas de rua, descendentes indiretos dos Mímicos da antiga Roma nos tempos do império. O Quibungo é um forte aliado dentro dessa literatura onde não existem limites para a imaginação.

No Congo e Angola, Quibungo significa "Lobo". Entre os povos da costa ocidental da África, existiam as hordas de salteadores vindos de outras regiões e que comumente invadiam povoados e aldeias, saqueando tudo; se apossando de mulheres, crianças e demais pertences, e escravizando os homens e os velhos. A este tipo de agressão praticadas pelos grupos invasores eles chamavam de Cumbundo, e a cada indivíduo que faz parte do grupo, Quimbungo que pode ser interpretado como "invasor" ou "invadir",ou "aquele que vem de fora sem ser esperado ou convidado".

De tal sentimento de pavor que sentiam, inspirados pelo Quimbungoinvasor, associados à ideia e ao terror próprios do Chibungo, como eram chamados pelos povos negros o Lobo animal, nasceu evidentemente na imaginação popular a concepção dessa entidade estranha - O Kibungo. Os povos Bantus se encarregaram de transmitir às nossas populações do norte e nelas persiste, mesmo após o desaparecimento dos povos em que teve origem.

Desse modo, o Quibungo baiano é ao mesmo tempo homem e animal. Espécie de lobo ou velho negro maltrapilho e faminto, sujo e esfarrapado, um verdadeiro fantasma residente nos maiores temores infantis.

Não nos é possível determinar se nas estórias africanas o Quibungoconserva a forma e os hábitos do seu similar baiano. O Quibungo africano não tem um ciclo temático igual ao brasileiro. Aqui ele assumiu o mesmo papel já atribuídos ao Tutu-Marambá, ao Bicho-preto, ao Macaco-saruê, ao Bicho-cumunjarim, ao Dom Maracujá e ao próprio Zumbi que muitas vezes é sinônimo de Saci-Pererê. Do africano herdou a boca vertical, do nariz ao umbigo ou no dorso, assim como já é o nosso Mapinguari. Na Bahia o Quibungo reina e governa em sua missão de assombro aos pequenos.

Assim, o Quibungo baiano é só baiano, não existe em outros lugares do Brasil. É um bicho meio homem, meio animal, tendo uma cabeça muito grande e também um buraco no meio das costas, que se abre quando ele abaixa a cabeça e se fecha quando levanta. Engole as crianças abaixando a cabeça, abrindo o buraco e jogando-as para dentro. É também um feiticeiro, demônio, lobisomem, macacão, preto velho. No fundo continua sempre a ser um ente estranho e canibal, que prefere a carne tenra das crianças.

Outro ponto digno de menção sobre o Quinbungo é sua completa vulnerabilidade. Pode ser atacado por qualquer meio, arma branca ou de fogo. Morre gritando, espavorido, acovardado, como o mais inocente dos monstros que a imaginação infantil dos povos já criou.




Amo a noite medonha e tenebrosa...

Amo a noite medonha e tenebrosa
envolta no seu manto negro e triste;
amo quando os relâmpagos se cruzam
        em campo descoberto.

Amo dos elementos a desordem
nas asas de medonha tempestade;
amo o trovão ao longe ribombando,
        amo o zunir dos ventos.

Como Byron, também amo a tormenta,
quando solta em furor gritos irados;
amo vê-la depois em doce calma
        a sorrir para a terra.

Amo o furor do mar tempestuoso,
nas praias a arrojar violento as vagas,
e amo vê-lo sereno e gemebundo
        beijando alvas areias.

Amo o triste cipestre verde-negro
como guia fiel das sepulturas,
amo o silêncio infindo, amo o repouso
        da região dos mortos.

Amo por tudo a dor silenciosa
da Niobe infeliz petrificada,
amo o rolar por face macilenta
        de lágrima sentida.

Amo ouvir a rolinha no deserto
soltar suaves gemidos de saudade
amo sentir a flor na haste viçosa
        ser ao vento levada.

Amo o instante em que o astro da saudade
mira seu rosto lindo em lago ameno,
e amo vê-lo pálido e sombrio
        divagar solitário;

amo-o num céu azul, escampo e lindo,
inspirando tristezas e saudades,
e amo-o surgindo empós, entre arvoredos,
        melancólico e belo!

Amo o cândido lírio debruçado
nas águas de um ribeiro cristalino
a contar-lhje talvez ocultas mágoas,
        ou queixas escutando.

Amo, no ocaso, o dia moribundo
da terra a despedir-se entristecido,
amo-o depois, já morto e rociado
        por lágrimas da noite!

Amo num denso bosque o passaredo
cantar, gemer, voar em liberdade,
e amo tudo que enleva o pensamento

        e nos transporta a Deus!

Joaquina Meneses de Lacerda


Amor e Descrença


Oh! quisera vazar todo o meu sangue,
Em troca de um teu riso dar-te a vida:
Mas não, não posso; é vão, ó minha fada,
Escrito está no livro do destino
O curso de meus dias sobre a terra.
Triste flor! – o tufão roubou-lhe a seiva;
O seu sol da manhã foi sol ardente,
O crepúsculo da tarde a sua aurora!

Oh! quisera poder dizer-te apenas –
Eu te amo, como o bardo ama seus sonhos:
Dera tudo no mundo – altar e tronos,
Em minha alma um vulcão, vulcão no peito.
Mas não, não posso; é tarde, ó meu arcanjo,
Nas lides do pensar lancei-me agora;
A razão sufocou meu sentimento –
Minha sina é descrer – e amor é crença. –

Oh! talvez quando o corvo do infinito
Por teu rosto passar as negras asas,
E na campa verter fingido pranto
A turba, que te segue hoje no mundo;
Talvez contigo e Deus falando apenas –
Eu te conte baixinho o meu segredo:
Talvez eu diga então – eu te amo, ó virgem,
Nos olhos da finada eu tenho crença. –

Mas enquanto dourar o sol os vales,
Os róseos lábios não cerrar-te a morte –
Amar-te?! não te enfades, minha virgem,
É vão esforço: espera, deixa o tempo
Sobre nós peneirar o pó dos séculos. –
Amanhã ou depois – talvez em pranto
Meu segredo na campa irei depor-te:

Mas hoje?!… inda não creio – é cedo ainda!

João d'Almeida Pereira Filho

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Lenda - PÉ-DE-GARRAFA


          O Vão do Paraná, aquele grande vale de sessenta léguas, formado pelas ramificações que correm para o Norte do Estado do espinhaço da Serra Geral, é o "habitat" do Pé-de-Garrafa. Coberto de extensas florestas, verdadeiras muralhas verdes que abrigam os cursos dos rios, o Vão do Paraná é uma região misteriosa, em que o homem se sente assoberbado pela natureza. Metido na mata sombria, remendada aqui e ali por pedacinhos do céu azul, o homem sente-se penetrado do terror da natureza.

             E o estalido da folha seca que o mateiro pisou cauteloso, o pio agudo dum pássaro, o farfalhar das mantilhas de folhagens seguras do ombro alto dos troncos, ao sopro do vento - o fazem estremecer e arrepiar.

             A mata com seu exército de troncos impassíveis, com seus ruídos misteriosos estofados de silêncio, é deveras assombrosa. A imaginação aí fervilha. E o terror cria duendes e gênios, que povoam os recessos intrincados e sombrios e trançam nas encruzilhadas dos caminhos. Se o caminheiro topa dois galhinhos cruzados em seu trilho, salta-os se benzendo - foi o Saci que os dispôs assim no caminho.

             Se o ouvido alerta escuta um grito agudo, estaca anelante, pálido. Repetindo, retrocede apavorado - é o Pé-de-Garrafa - o gênio mau da mata, corpo de homem, preto, umbigo branco, um pé só em forma de fundo de garrafa. Vive gritando pelas matas à procura de caminho. Não se deve responder, senão vai aproximando, aproximando... e ninguém sabe, mas deve suceder algo horrível. Habita só as matas fechadas. Lenhadores, caçadores e viajeiros, já ouviram seus gritos pavorosos; ou pularam agoniados seus grandes rastros no chão úmido.


             Outros entretanto informam que o Pé-de-Garrafa é assim: tem um chifre só na cabeça, um olho só na cara, uma única mão, com garras, e um pé só redondo como fundo de garrafa, que lhe dá o nome. Se alguém o encontrar, declaram estes informantes, é um perigo: torna-se uma fera terrível e só se pode acertar o tiro no umbigo, único ponto branco e vulnerável.

             Contam até que um fazendeiro, passando por uma, mata vizinha de sua fazenda, ouviu o grito do Pé-de-Garrafa. Como era valente e não temia nada, respondeu, com outro grito. O grito então veio se aproximando, aproximando, cada vez mais forte, mais pavoroso, até que o fazendeiro horrorizado, esporeou o animal, abalando pela estrada a fora, à toda, chegando esbaforido à fazenda, onde contou o caso.


               Esta lenda, das mais famosas do Nordeste colhi-a em Formosa. Segundo constatei por informações de diversos conhecedores do Norte e Leste, ela é corrente entre as populações destas regiões. A. Americano se refere, de passagem, a este mito, à página 49 de seu livro Lendas e Encantamentos do Sertão: "O homem indignou-se e disse que fosse buscar quem quer que fosse, rico ou pobre, até mesmo o Pé-de-Garrafa, se o encontrasse". Não é restrita, pois, ao Estado do Piauí, onde primeiro foi colhida por Vale Cabral, segundo pensou um eminente folclorista. O acadêmico Gustavo Barroso afirma mesmo que já a ouviu alhures. Sua área geográfica deve ser portanto bem maior.


          TEIXEIRA, José A. Folclore Goiano: cancioneiro, lendas, superstições. 2ª ed. Rev. e ampl. Vol. 306. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1959.




Matéria:  Leitora  Pepita Afiune

Meus sinceros Agradecimentos.


Romãozinho - A criança maldita


          A lenda do Romãozinho conta a história de um menino, filho de um humilde agricultor, que mesmo quando era apenas um bebê, já demonstrava sinais de ruindade extrema. Dizem que antes mesmo de aprender a falar, Romãozinho mordia quem colocasse a mão em seu rosto assim como mordia o peito de sua mãe, quando está tinha que o amamentar.  Já maior, na infância, sempre gostou de maltratar os animais, destruir plantas e prejudicar as pessoas.

          Certa vez, sua pobre mãe mandou-o levar o almoço ao pai, que trabalhava longe de casa, na roça. Ele foi de má-vontade (nunca foi de seu feitio fazer nada que não ganhasse algo em troca). No meio do caminho, ele comeu a galinha que era destinada a ser o almoço de seu pai, colocou os ossos na marmita e levou-a assim mesmo. Quando o pai viu só ossos ao invés da galinha assada, ele perguntou o que aquilo significava. Romãozinho, maldosamente, disse: "Deram a mim a comida já assim ... Eu penso que minha mamãe comeu a galinha com o homem que vai sempre a nossa casa quando o senhor sai para trabalhar, e enviou-lhe somente os ossos como deboche do senhor".


          Enlouquecido de fúria e ódio, o homem voltou correndo para casa, não deu nem ao menos tempo para a mulher desmentir o filho, puxou o punhal e a matou ali mesmo. E Romãozinho, mesmo testemunhando a morte da mãe não desmentiu o que havia falado para o pai. E enquanto a mãe agonizava no chão, o menino ainda ria dela e de como havia sido esperto enganando a todos. Mas antes de morrer, a mãe amaldiçoou o filho, dizendo: "Você não morrerá nunca! Você não conhecerá o céu ou o inferno, nem repousará enquanto existir um vivente sobre a terra! Seu tormento será eterno"!

          Romãozinho não se intimidou, riu mais uma vez ante a maldição e foi embora. Vendo o mal que havia feito e de como tinha sido enganado, o pai se suicidou. Desde esse dia o menino nunca mais cresceu, e dizem os populares que ele costuma andar pelas estradas e fazer travessuras com os coitados que possuem o azar de cruzar com ele. Tem por hábito quebrar as telhas das casas a pedradas, assustar os homens e torturar as galinhas.

          Mas algumas pessoas também atribuem a ele coisas boas. Há uma história que diz que uma mulher grávida estava sozinha quando entrou em trabalho de parto, e no desespero chamou por Romãozinho, e este atendeu ao chamado, foi à casa da parteira que depenava uma galinha. Conta a mulher que a galinha de repente saiu da sua mão voando. A parteira saiu correndo atrás e a galinha foi jogada na casa da mulher que estava em trabalho de parto (Até para fazer o bem, Romãozinho tortura).

          A lenda do Romãozinho é bastante conhecida no leste da Bahia, em toda Goiás, parte do Mato Grosso e também no  Maranhão.Conta-se que os primeiros relatos desse mito são do distrito de Boa Sorte, município de Pedro Afonso, em Goiás, que faz fronteira com o Maranhão, e dataria do século XX.


          Existem diversas versões sobre a história de Romãozinho. Em algumas ele teria matado o pai de susto, já em outras, sua mãe teria vivido e amaldiçoado o filho posteriormente a morte do pai. Existe ainda uma versão em que dizem que o menino também vira uma tocha de fogo que fica indo e vindo pelos caminhos desertos. Já outros, dizem que ele seria o próprio Corpo-Seco, lenda esta que nós já publicamos aqui no blog. Nesta versão, a alma do menino seria tão ruim, mas tão ruim, que nem o céu nem o inferno o quiseram, por essa razão ele vaga pelo mundo assustando as pessoas.





Anfitrite

Louco, às doudas, roncando, em látegos, ufano,
O vento o seu furor colérico passeia...
Enruga e torce o manto à prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.

A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
Grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
Perdida ao longe, como um pássaro que anseia,
Alva e esguia, uma nau avança a todo o pano.

Sossega o vento; cala o oceano a sua mágoa;
Surge, esplêndida, e vem, envolta em áurea bruma,
Anfitrite, e, a sorrir, nadando à tona d'água,

Lá vai... mostrando à luz suas formas redondas,
Sua clara nudez salpicada de espuma,

Deslizando no glauco amículo das ondas.

Francisca Júlia


Angústia

Uma sede cruel reina no meu coração;
Nunca tinha imaginado que este inteiro mundo,
Calcado na mão de Deus, pudesse dar
Uma tão amarga essência de inquietação,
Uma dor grande como aquela que agora a saudade
Retirou de seu tremendo coração, aberto!

Cada respiração é um gemido,
As batidas de meu coração são toques de dor,
E meu cérebro tem um único pensamento
Que nunca mais, pela vida toda poderei novamente
(Exceto na dor da lembrança)
Tocar tua mão, que agora não existe mais!

No vazio da noite procuro,
Sombriamente chorando teu nome;
Mas tu não estás lá; e o vasto trono da noite
Se torna uma enorme catedral
Com as estrelas que tocam como sinos na minha direção,
Que no espaço infinito sou o ser mais só!

Sedento, rastejo para a margem,
Onde certamente algum alívio me será oferecido
Do coração eterno do antigo mar;
Mas olha! De sua solene profundidade
Vozes longínquas, misteriosas
Parecem perguntar porque estamos separados.

Onde vá, estou só
Eu que por algum tempo, graças a você, possuía o mundo.
Meu peito é uma dor raivosa
Por aquilo que uma vez já foi e agora fugiu
No vazio onde a vida se precipita

Onde cada coisa não existe mais, nem existirá.

William Hope Hodgson


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Combustão Espontânea Humana


           Em 1663, o físico dinamarquês Thomas Bartholin descreveu uma mulher que “ardeu em chamas e fumaça” enquanto a cama de palha em que estava deitada permaneceu intacta. O estranho incidente, que aconteceu em Paris, é tido como o primeiro registro de um fenômeno que hoje conhecemos – mas que não compreendemos – como combustão espontânea.
A combustão humana espontânea é o nome dado ao raro acontecimento em que uma pessoa queima até virar cinzas, sem causa externa aparente para a ignição.

Características

           A maioria dos 200 casos conhecidos de combustões humanas espontâneas (CHE) têm características similares.
Primeiro, o corpo é quase completamente incinerado enquanto a maior parte da área ao redor permanece intocada; apenas o corpo, o chão embaixo e o teto logo acima são afetados.
A segunda característica comum é que o torso é a parte mais consumida pelas chamas, com os possíveis restos pertencentes às extremidades.
           A terceira é que assim como não há evidência externa de ignição, também não há anda que supostamente tenha acelerado ou começado o fogo.
Finalmente, a vítima está normalmente sozinha, e em casa, quando encontra o fogo mortal. E geralmente são reconhecidas como vivas quando o fogo começou, mesmo que não sejam comuns sinais de luta.


           Há diversas teorias para explicar o fenômeno: explicações paranormais e naturais, envolvendo causas mais ou menos verificáveis.
           Entre as explicações naturais mais plausíveis está a ideia de que as vítimas – que tendem a ser idosas, enfermas ou obesas – estão dormindo, ou imóveis, ou ainda mortas por algo como um ataque do coração, e acionam alguma fonte de fogo – comumente um cigarro derrubado.
           Uma hipótese conhecida como o “efeito pavio” sugere que alguma faísca externa ou chama queima as roupas da vítima o suficiente para chegar à pele. A pele então libera gordura, que age de modo similar à cera da vela. O efeito foi testado e concluíram que o corpo humano contém gordura suficiente para garantir a própria combustão.


           Outros estudiosos da combustão humana espontânea têm suas próprias teorias, baseadas em explicações mais “loucas”. Uma delas sugere que partículas como os raios gama causam uma CHE, em uma reação livre de oxigênio – mas como isso acontece e de onde vem a energia é um mistério.
           Outra explicação ainda não testada é a de que níveis anormais de álcool no sangue atingem o ponto de pegar fogo espontaneamente. Mas os níveis de concentração alcoólica necessários para tanto faz a teoria impossível.
           Uma terceira ideia é de uma faísca de um acúmulo de eletricidade estática, que inicia o fogo nas roupas da vítima. Mas isso soa pouco plausível para os infernos mortais que tiraram a vida de centenas de pessoas.


7 – Mary Hardy Reeser (1951)

           Em 1951, na Flórida, os restos carbonizados de Mary Reeser, de 67 anos, foram encontrados na cadeira em que ela estava sentada, com nada mais fora o crânio, parte do pé esquerdo e o osso da coluna. Mesmo com o corpo quase completamente incinerado, houve pouco dano à sala – nada esperado para um incêndio típico.
O chefe de polícia local, J. R. Reichet, enviou uma caixa com evidências para o FBI, junto com uma nota: “Pedimos informações ou teorias que possam explicar como um corpo humano pode ser tão destruído, o fogo confinado a uma área tão pequena e tão pouco dano à estrutura do prédio, e a mobília do quarto nem mesmo chamuscada pela fumaça”. O FBI respondeu com a teoria do pavio – um cigarro gerou o fogo.

6 – John Irving Bentley (1966)

           John Irving Bentley era um físico de 92 anos da Pensilvânia, encontrado morto em seu banheiro, queimado até a morte. A única sobra do corpo de Bentley foi a metade inferior da perna direita, com o pé ainda usando um chinelo. O corpo queimou tanto que as sobras foram parar no porão, embaixo do banheiro. Um teórico acredita que as cinzas do cachimbo de Bentley caíram nas suas roupas e os fósforos no bolso ajudaram no resultado. O que parece ser um jarro de água quebrado estava na banheira, sugerindo que Bentley tentou apagar o fogo, mas morreu antes de conseguir.

5 – Henry Thomas (1980)

           Henry Thomas, de 73 anos, foi encontrado na sala de sua casa em Wales quase que completamente incinerado – exceto pelos seus pés calçados e pernas abaixo dos joelhos, e o crânio. Metade da cadeira onde estava também foi destruída, e o calor derreteu o controle da televisão.
O policial John E. Heymer comentou que “a sala estava inundada por uma luz laranja, que vinha das janelas e de uma lâmpada. Essa luz é o resultado da luz do dia e da eletricidade sendo filtradas por gordura humana evaporada e condensada nas superfícies. O restante da casa estava completamente intacto”. A equipe forense afirmou que a morte foi resultado do efeito pavio, sugerindo que Thomas caiu na lareira e sentou-se de novo. Entretanto, Heymer discorda, dizendo que o oxigênio na sala fechada não iria permitir o efeito, e ainda lembrou-se das bordas da calça da vítima – “que pareciam queimadas por um laser”.

4 – George Mott (1986)

           Apenas um crânio encolhido e uma costela foram encontrados depois que George Mott, um bombeiro nova-iorquino de 58 anos, queimou até virar cinzas, junto com a cama onde estava deitado. Investigadores lançaram a ideia de que um arco elétrico e um vazamento de gás tinham causado as chamas. Mott era conhecido como um fumante e bebedor pesado, e não estava com a máscara de oxigênio que costuma usar.

3 – Jeannie Saffin (1982)

           Um dos poucos casos de combustão espontânea em que uma testemunha esteve presente é o de Jeannie Saffin, uma mulher de 61 anos com idade mental de seis. Saffin estava sentada com o pai, de 82 anos, na casa deles, em Londres, quando, de acordo com o testemunho do homem, ele percebeu de relance um raio de luz.
           Quando se virou para a filha, ele a viu coberta de chamas mas sem movimento ou qualquer tentativa de apagar o fogo. Ele tentou apagar o fogo, machucando as mãos no processo. Jeannie sofreu queimaduras de terceiro grau na parte superior do corpo, mas morreu uma semana depois, enquanto estava no hospital.

2 – Michael Faherty (2010)

           O irlandês Michael Faherty, de 76 anos, foi encontrado morto, com a cabeça perto da lareira, em sua sala. Os danos no local estavam limitados ao teto acima de sua cabeça, o chão logo abaixo, e o corpo, totalmente incinerado. A polícia, entretanto, não acreditou que a lareira foi a causa do incêndio. O coronel afirmou que “esse fogo foi investigado e eu fico com a conclusão de que isso entra na categoria de combustões humanas espontâneas, para a qual não há explicação adequada”. Outros acreditam que as cinzas do fogo tenham sido responsáveis.

1 – Robert Bailey (1967)


           Em um estranho caso de combustão espontânea em Londres, um passageiro de ônibus avistou chamas azuis na janela de um apartamento superior e presumiu ser um jato de gás. A testemunha chamou o corpo de bombeiros, e Robert Bailey, um homem de rua, foi encontrado morto nas quentes escadarias do prédio. Um bombeiro afirmou que as chamas azuis – extinguidas com uma mangueira – estavam vindo de uma fenda no abdome de Bailey, que ainda estava vivo quando começou a queimar.