O homem senta em sua cadeira, acende um cigarro sacudindo as
cinzas e olha a sua volta. O quarto estava imundo, as paredes que um dia foram
brancas agora estavam de uma cor entre o bege e cinza, estavam também
descascadas. O piso não podia ser visto, pois uma camada gosmenta de lama cinza
e sangue o cobria completamente. Os móveis eram poucos, uma cama cinza imunda,
onde se encontrava o corpo de uma jovem já em um tom cinza pós morte em um
estado que faria o estomago de qualquer pessoa normal virar ao avesso, um
criado mudo de metal cinza onde encontravam-se alguns instrumentos cirúrgicos de
cabos cinza e vidros marrons de tampas cinza cujo o conteúdo não se pode dizer
o que é. Um pequeno frigobar cinza chumbo que ao abrir-se se mostrava cheio de
órgãos humanos, possivelmente retirados da jovem morta na cama ou de alguma de
suas outras vitimas. Um fogão velho que um dia foi cinza claro, mas agora
mostra somente a ferrugem adquirida com o tempo em um tom cinza ocre. Tinha uma
panela preta de fundo cheio de carvão e cinza e suja em cima que mais cedo
serviu para cozinhar um daqueles órgãos e mais tarde outro. E por último uma
pequena mesa onde o único adorno era o cinzeiro acinzentado, velho e amassado.
Em uma das extremidades da mesa ficava uma cadeira suja de assento cinza onde o
psicopata estava sentando dando tragos longos em seu cigarro espalhando as
cinzas. De trás da mesa uma janela de vidro tão sujo e cinza que não se podia
ver o que havia lá fora.
Ele esta cansado daquela sujeira, cansado do cheiro, não que
o cheiro de carne humana, sangue e cinzas o dessem náusea, não, ele esta
cansado da pobreza, da miséria em que ele vivia desde que nascera nesta vida
cinza. Mas ele sabia que um dia isso iria mudar, pois havia feito um pacto com
o diabo e a hora de seu pagamento estava por vir. Ele já tem tudo tramado em
sua cabeça louca estava claro como um papel em letras cinza, iria enganar o
diabo de maneira que ele jamais conseguiria sua alma cinza.
“Onde esta você maldito?” – rosnou.
Quando mal tinha acabado de pronunciar as palavras uma mão
lhe toca o ombro com unhas cinzas e bem feitas. Estranhamente ele não se
assusta e o homem que havia tocado seu ombro caminha lentamente para sua
frente. Os passos deste homem soam como terremotos e sua mão é tão quente
quanto o fogo, um cheiro de cinzas impregna o ar. Já frente a frente, o psicopata
o inspeciona. Sempre que os dois se encontravam ele se espantava com a
elegância impecável do homem, se é que se pode chamar o diabo assim. De terno Cinza Metalico, camisa chumbo e gravata cinza metalico. O cabelo bem penteado e com gel
de leve brilho acinzentado, dentes brilhantes e sorriso carismático, acredite
ou não. Ele parecia um desses vendedores de terno cinza que batem na nossa
porta vendendo aspiradores, desses vendedores tão bons que conseguiria vender
água benta a um padre, só que nesse caso ele não vendia e sim comprava.
Comprava algo de temos de mais valioso, a alma cinza.
“Já estava na hora. Achei que você não iria aparecer nunca.”
– diz o psicopata.
“Você tinha que provar seu valor antes de receber sua
recompensa, o que você fez muito bem. Espalhou o terror, torturou, matou,
violou, destruiu famílias, corrompeu dezenas de homens e mulheres levando-os as
cinzas, sem contar com seu gosto peculiar por carne de jovens adolescentes,
transformou esperanças em cinzas.” – respondeu o diabo olhando para cama cinza.
“A hora de seu pagamento chegou, escolha o que quiser e quando a hora chegar,
sua alma cinza será minha.”
“Eu quero ser rico, muito rico e quero viver para sempre.” –
diz o psicopata encarando o diabo para ver sua reação.
“Então seu plano é esse, viver para sempre. E a minha alma?”
– pergunta o diabo sem mudar o tom de voz ou sem apagar o sorriso do rosto.
“Você me disse que era qualquer coisa, essa é a minha
escolha. Passei toda minha vida fazendo o que você mandou agora cumpra sua
parte do trato.” – diz ele esmurrando a mesa e espalhando as cinzas em meio a devassidão.
O diabo coloca a mão na mesa e arrasta um papel com o dedo
indicador até o psicopata. Este por sua vez olha com olhos brilhantes o papel
cinza quase branco. Era um bilhete de loteria, que naquela semana teria um
prêmio gigantesco. Ele pega o bilhete e o coloca contra a pouca luz vinda da
janela e o examina. Na frente uma seqüência de seis números e atrás seu nome e
sua assinatura.
“Obrigado.” – diz o psicopata com a voz tremula,
mostrando-se emocionado. “E a imortalidade?”
“Feito também. Agora você é rico e imortal.” – responde o
diabo que agora não tinha mais aquele sorriso carismático, mas um sorriso sínico
e perverso com veios cinza escuro em sua face.
“Acho que agora é adeus então.” – diz o psicopata sorrindo.
“Adeus não, Aodiabo.” – responde o diabo dando uma
gargalhada ensurdecedora e desaparecendo em meio uma nuvem de fumaça cinza esquálida,
.
Anos se passaram, o psicopata esta vivendo a vida que sempre
quis. Mansões, carros, viagens, mulheres vivas ou mortas. Tudo o que sempre
sonhara agora era sua realidade. Como ele se considerava um homem de palavra
continuava fazendo o que havia tratado com o diabo, porém agora espalhava o
terror em escala maior. Um homem com dinheiro e influencia poderia não somente
matar indivíduos para satisfazer seu paladar, mas também prejudicar a sociedade
em geral. Ele era um homem mau, lúcifer não o havia corrompido, ele já nasceu
com a alma podre, má e cinza. Agora com
poder nas mãos a diversão era muito maior.
Acompanhado de quatro moças lindas e de caráter duvidoso e
rostos cinza pálidos, ele entra em seu helicóptero cinza azulado rumo a sua
casa de luxo feita de mármore cinza ao topo de uma montanha onde passaria
alguns dias se divertindo. Quando estivesse cansado, faria sua refeição
principal e sua lareira seria alimentada deixando apenas cinzas, logo deixaria
a casa sozinho.
Algumas horas mais tarde, o grupo estava dentro do jacuzzi cinza
rodeado de um jardim maravilhoso, já bêbados e drogados de pó cinza (batizado) e esquecidos do mundo cinza
lá fora. Algo chama a atenção deles. Um barulho alto, vindo de baixo da terra,
um barulho que aumenta rapidamente. A terra começa a tremer e quando eles
tentam sair da banheira seus corpos são arremessados longe um do outro. O
psicopata se vê fora dos arredores da casa para baixo da montanha e quando ele
olha para cima, vê uma rocha de tom cinza musgo enorme caindo em sua direção.
Sem tempo de reagir a rocha o acerta sua perna na altura do joelho separando a
parte inferior do membro do resto do corpo. Sua boca abre na tentativa de
gritar, mas o barulho é abafado por toneladas de terra e cinzas de um terreno
queimado logo acima lhe calam. Na tentativa de respirar ele engole parte da terra
e das cinzas. Seus pulmões ardem de agonia na falta de oxigênio, cada músculo
de seu corpo dói como se estivessem sendo rasgados queimados e transformados em
cinzas, seus olhos parecem querer saltar das órbitas, a visão fica turva e
cinza escuro. Sufoco, dor, claustrofobia são apenas umas palavras para
descrever a sensação de desconforto dele. Aquilo era sofrimento simples e puro
e ele sabia que tinha sido arquitetado pelo diabo de semblante cinza. Mas e seu
acordo?
“Vou morrer, o desgraçado não cumpriu sua promessa.” –
pensou com ódio.
Sua agonia não terminava e a este momento ele já estava
implorando para morrer. Ele mal termina de pensar a imagem de lúcifer lhe vem a
cabeça. Eles se olham e o diabo sorri aquele sorriso sínico cinza e perverso
que vestia da última vez que se viram.
“Eu cumpri minha promessa sim.” – responde lúcifer. “Quem
disse que você vai morrer? Você vai passar a eternidade aqui, enterrado vivo,
sentindo dor, fome e claro a falta de ar, não vais virar cinzas. Quando você
faz um pacto com o diabo, você vai pro inferno, de um jeito ou de outro.” – e
desapareceu.
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