segunda-feira, 8 de junho de 2015

Acédia

Fitando o mar, que desespero insano,
Esquisito desejo netunino
De partir, alijando o meu destino
Sobre os perigos múltiplos do oceano!

Mar alto! Céus a todo descortino!...
Como eu me fora - nauta veneziano -
No meu veleiro solto a todo o pano
E à discrição desse furor divino!

Nem bússola, farol, sextante ou guia,
Nada do que não fosse a plenitude
Que entre as águas e o céu me envolveria.

Quando, vencida essa derrota rude,
Também me visse em plena solitude:

Mar alto, céu sem Deus, alma vazia...

Pereira da Silva

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