Apotropia
Itens com qualidades apotropaicas, capazes de afastar as
almas do outro mundo, são comuns no folclore vampírico. O alho é um exemplo
comum, e ramos de roseira silvestre e pilriteiro têm fama de poder ferir
vampiros, e na Europa diz-se que espalhar sementes de mostarda no telhado das
casas consegue afasta-los. Outros apotropaicos incluem itens sagrados,
comocrucifixos, rosários, ou água benta. Diz-se que os vampiros não conseguem
pisar chão sagrado, tal como o das igrejas e templos, ou atravessar água
corrente. Embora não sejam habitualmente vistos como apotropaicos, os espelhos
têm sido usados para afastar vampiros quando colocados em portas, virados para
o exterior. Em algumas culturas, os vampiros não possuem reflexo e por vezes
não produzem sombra, possivelmente como manifestação da ausência de alma no
vampiro. Este atributo, embora não universal (os vrykolakas/tympanios gregos
são capazes de gerar tanto reflexo como sombra), foi usado por Bram Stoker em
Drácula e permaneceu popular em autores e realizadores de cinema posteriores.49
Algumas tradições asseguram também que um vampiro não consegue entrar numa casa
a menos que seja convidado pelo seu proprietário, embora após o primeiro
convite possa entrar e sair sempre que lhes apeteça. Não obstante os vampiros
da tradição popular sejam tidos como mais activos à noite, não são geralmente considerados
vulneráveis à luz solar.
Métodos de destruição
Os métodos de destruição de supostos vampiros variam, sendo
o empalamento o método mais comummente citado, em particular nas culturas
eslavas meridionais. O freixo é a madeira preferida na Rússia e estados
bálticos para a confecção da estaca, ou o pilriteiro na Sérvia, havendo um
registo de ter sido usado carvalho na Silésia para o mesmo efeito. Vampiros em
potencial são muitas vezes perfurados com estacas através do coração, embora na
Russia e Alemanha setentrional o alvo fosse a boca, e no nordeste da Sérvia o
estômago. A perfuração da pele do peito era um método usado para
"esvaziar" o vampiro inchado; isto apresenta semelhanças com o hábito
de enterrar objectos afiados, como foices, junto com os corpos, de modo a
penetrarem a pele se o corpo inchasse o suficiente durante a transformação em
morto-vivo. A decapitação era o método preferido na Alemanha e regiões eslavas
ocidentais, sendo a cabeça enterrada entre os pés, detrás das nádegas ou sobre
o corpo. Este acto era visto como um modo de apressar a partida da alma, que se
acredita em algumas culturas que ronde o corpo durante algum tempo após a
morte. A cabeça, corpo e roupas do vampiro podem também ser perfurados e
pregados à terra por forma a evitar que se levantem.58 Os povo cigano enfia
agulhas de aço ou ferro no coração do corpo e coloca pedaços de aço na boca,
sobre os olhos, orelhas, e entre os dedos na ocasião do funeral. Também colocam
pilriteiro na mortalha ou enfiam uma estaca de pilriteiro através das pernas.
Num enterro datado do século XVI perto de Veneza, um tijolo forçado pela boca
de um corpo feminino foi interpretado como um ritual destinado a matar vampiros
pelos arqueólogos que o descobriram em 2006. Outros métodos incluíam derramar
água a ferver sobre a campa ou a incineração total do corpo. Nos Balcãs, um
vampiro pode ainda ser morto a tiro ou afogado, repetindo as exéquias,
salpicando água benta sobre o corpo, ou através de um exorcismo. Na Roménia
pode ser colocado alho na boca, e em tempos tão recentes como o século XIX uma
bala era disparada através do caixão como medida de precaução. Em caso de
resistência, o corpo eradesmembrado e as partes queimadas, misturadas com água,
e dadas a beber aos familiares como cura. Nas regiões saxónicas da Alemanha, um
limão era colocado na boca de corpos suspeitos de serem vampiros.
Lilith (1892), por John Collier
Lendas sobre seres sobrenaturais que se alimentam do sangue
ou carne dos vivos têm sido encontradas em praticamente todas as culturas à
volta do mundo desde há muitos séculos. Hoje em dia associaríamos essas
entidades a vampiros, mas na antiguidade esse termo não existia; o consumo de
sangue e outras actividades semelhantes eram atribuídos a demónios ou espíritos
comedores de carne e bebedores de sangue; mesmo o Diabo era considerado como um
sinónimo de vampiro. Quase todas as nações têm associado o acto de beber sangue
com algum tipo de alma de outro mundo ou demónio, ou em alguns casos uma
divindade. Na Índia, por exemplo, lendas de vetālas, seres semelhantes a
espíritos malignos que habitam os corpos, foram compilados no Baitāl Pacīsī; um
importante conto do Kathāsaritsāgara versa sobre o rei Vikramāditya e as suas
expedições nocturnas para capturar um destes seres especialmente esquivo.
Piśāca, os espíritos de quem fez o mal ou morreu louco, retornados à terra,
também possuem atributos vampíricos.
Os persas foram uma das primeiras civilizações onde se
registam lendas de demónios bebedores de sangue: criaturas tentando beber
sangue humano estão representadas em cacos de olaria desenterrados. Na Antiga
Babilónia e na Assíria existiam lendas sobre a mítica Lilitu, sinónimo e origem
de Lilith (Hebraico לילית)
e as suas filhas, as Lilu, da demonologia hebraica. Lilitu era considerada um
demónio e muitas vezes representada alimentando-se do sangue de bebés. Dizia-se
que as Estrias, demónios bebedores de sangue e de forma feminina mutável,
deambulavam à noite por entre a população, em busca de vítimas. De acordo com o
Sefer Hasidim, as Estrias eram criaturas geradas nas horas de crepúsculo que
precederam o descanso de Deus. Uma Estria ferida podia ser curada ao comer pão
e sal dados pelo seu atacante.
As antigas mitologias grega e romana descrevem as Empusas,68
Lâmias, e estirges. Ao longo dos tempos, os dois primeiros termos foram usados
genericamente para descrever bruxas e demónios, respectivamente. Empusa era
filha da deusa Hécate e descrita como uma criatura demoníaca com pés de bronze,
que se banqueteava em sangue transformando-se numa jovem mulher e seduzindo
homens durante o sono antes de lhes beber o sangue. As Lâmias depredavam
crianças pequenas nas suas camas durante a noite, bebendo-lhes o sangue, tal
como faziam as gelloudes ou Gello. Tal como as Lâmias, as estirges
banqueteavam-se com crianças, mas também depredavam jovens rapazes. Eram
descritas como tendo corpo de corvo, ou genericamente de pássaro, e foram mais
tarde incorporadas na mitologia romana comostrix, um tipo de pássaro nocturno
que se alimentava de carne e sangue humanos.
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