sexta-feira, 17 de julho de 2015

Arcanjos Maus Passai, Todos Cobertos

Arcanjos maus passai, todos cobertos
        de jóias e de luz,
mostrando à turba os ombros descobertos,
        os seios todos nus!

Passai, astros funestos! Messalinas
        operárias do amor!
Que em leilão pusestes nas esquinas
        os lírios do pudor!

Do mundo a saudação vos acompanhe;
        correi, estrelas fatais!
E à noite batizai-vos no champanha
        das loucas bacanais!

Se tendes menos crença do que dantes
        e menos ilusões,
nas tranças deveis ter mais diamantes,
        no olhar mais seduções.

Fingi no vosso mármore essas rosas
        que um sopro já desfez,
e passai radiantes e formosas,
        mais belas cada vez,

de perfumes enchendo todo o espaço,
        a rir de quem vos vê,
prendendo a um tempo o coração devasso
        e aquele que ainda crê!

Arcanjos maus passai, todos cobertos
        de jóias e de luz,
mostrando à turba os ombros descobertos,
        os seios todos nus!

Depois guardai um dia na mortalha
        os restos dessa flor,
que deu muitos perfumes... à canalha
        e poucos ao amor!

Guilherme de Azevedo


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