Há no mundo, talvez, embora o neguem,
Criaturas de Deus que o mundo enjeita;
Ela que o diga – a filha da tristeza
Que
cultos não aceita?...
Ela – que tem o lábio descorado,
E os pretos olhos tristemente rindo;
Ela – que chora às vezes de joelhos,
Não
sei o que pedindo!
Ela – que tem a palidez angélica,
Veias de azul na transparente alvura;
Ela talvez – que ressuscita
Em pé
na sepultura!
Ela – que move o corpo molemente
Como o arbusto que o vento vai dobrando;
Ela – tão pensativa – que já dizem
Que só
vive sonhando!
Ela – que envolta num vestido branco
Parece um serafim de asas de neve;
Ela – que passa, como o som d'aragem
Tão
fugitiva e breve!
Quem nega haver no mundo anjos celestes
Veja-a no templo – sim... que a veja um dia,
Com o seu livro dourado – os olhos baixos,
E diga
que não cria!......
José Bonifácio de Andrada e Silva, o Moço
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