Não ames nunca a palidez do anjo
Que as lousas guarda na mansão extrema;
No berço mudo que revela a morte
Deixa-o à noite que suspire e gema.
Deixa-o mil prantos derramar saudoso
Sobre o lajedo d'uma lousa nua;
Enquanto à noite o manto negro estende,
Ou cisma triste e solitária a lua.
A rosa branca que perfuma o ambiente,
Que à tarde pende nesse chão de dores,
Talvez mais risos of'recer-te possa
Do que o anjo de mortais palores.
Não ames nunca a palidez do anjo
Que as lousas guarda na mansão extrema;
Alma evocada do final jazigo
Deixa-a à noite que suspire e gema.
Esse anjo!... esse anjo!... Quando o vento geme,
E as flores pendem no gentil rosal,
Dizem que as almas dos jazigos surgem
E correm tristes na extensão do val?...
Esse anjo... esse anjo!... Quando do salgueiro
Se vergam ramos e mais zune o vento,
Dizem que as almas o jazigo deixam
E formam choros de eternal lamento?
O corpo dorme; mas a alma errante
Vaga na terra sem cessar saudosa:
E une-se aos ventos, ao quebrar das ondas,
Paira nos ares a gemer queixosa?...
Não ames nunca a palidez do anjo
Que as lousas guarda na mansão extrema;
Alma evocada do final jazigo
Deixa-a à noite que suspira e geme.
Deixa-a... que gema! - No sorrir da morte
Que desse arcanjo vem turvar o enleio,
Há um quê de triste que nos faz ter prantos
Cismas e sonhos, e nos gela o seio...
Lívido lábio, sem um riso alegre,
Quanto mistério não contém, não diz?
Ai quando sonho não 'stá ali já morto,
Quanta esperança dum porvir feliz?
...........................
Esse anjo... esse anjo! - Deixa-me na terra
Guardar saudades de alegria extrema,
Gozada n'outro tempo!... e sobre o túmulo
Deixa-me à noite que supire e gema!
Júlia da Costa
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