Oh! quisera vazar todo o meu sangue,
Em troca de um teu riso dar-te a vida:
Mas não, não posso; é vão, ó minha fada,
Escrito está no livro do destino
O curso de meus dias sobre a terra.
Triste flor! – o tufão roubou-lhe a seiva;
O seu sol da manhã foi sol ardente,
O crepúsculo da tarde a sua aurora!
Oh! quisera poder dizer-te apenas –
Eu te amo, como o bardo ama seus sonhos:
Dera tudo no mundo – altar e tronos,
Em minha alma um vulcão, vulcão no peito.
Mas não, não posso; é tarde, ó meu arcanjo,
Nas lides do pensar lancei-me agora;
A razão sufocou meu sentimento –
Minha sina é descrer – e amor é crença. –
Oh! talvez quando o corvo do infinito
Por teu rosto passar as negras asas,
E na campa verter fingido pranto
A turba, que te segue hoje no mundo;
Talvez contigo e Deus falando apenas –
Eu te conte baixinho o meu segredo:
Talvez eu diga então – eu te amo, ó virgem,
Nos olhos da finada eu tenho crença. –
Mas enquanto dourar o sol os vales,
Os róseos lábios não cerrar-te a morte –
Amar-te?! não te enfades, minha virgem,
É vão esforço: espera, deixa o tempo
Sobre nós peneirar o pó dos séculos. –
Amanhã ou depois – talvez em pranto
Meu segredo na campa irei depor-te:
Mas hoje?!… inda não creio – é cedo ainda!
João d'Almeida Pereira Filho
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