segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A Lenda do Negro D’Água



        Conta a lenda que o Negro D'água ou Nego D'água vive em diversos rios. Manifestando-se com suas gargalhadas, preto, careca e mãos e pés de pato, o Negro D'água derruba a canoa dos pescadores, se eles se negarem de dar um peixe. Em alguns locais do Brasil, ainda existem pescadores que, ao sair para pescar, levam uma garrafa de cachaça e a jogam para dentro do rio, para que não tenham sua embarcação virada. Esta é a História bastante comum entre pessoas ribeirinhas, principalmente na Região Centro-Oeste do Brasil, muito difundida entre os pescadores, dos quais muitos dizem já ter o visto.




         Segundo a Lenda do Negro D'Água, ele costuma aparecer para pescadores e outras pessoas que estão em algum rio. Não se há evidências de como nasceu esta Lenda, o que se sabe é que o Negro D'Água só habita os rios e raramente sai dele, seu objetivo seria como amedrontar as pessoas que por ali passam, como partindo anzóis de pesca, furando redes dando sustos em pessoas a barco, etc. Suas características são muito peculiares, ele seria a fusão de homem negro alto e forte, com um anfíbio. Apresenta nadadeiras como de um anfíbio, corpo coberto de escamas mistas com pele.


Fantasma do Martim Cererê



          Como toda boa cidade grande, Goiânia também é recheada de lendas urbanas. Se fala muito de túneis antiaéreos que correriam por baixo do Centro da cidade, sobre o Teatro Goi­ânia para abrigar um bunker contra ataques nucleares e muitas outras coisas. Uma delas é que o Martim Cererê seria assombrado. O cen­tro cultural abrigava caixas d’água, que após desativadas foram usadas para torturar presos durante a Ditadura Militar e nem to­das saíram vivas de lá. Funcionários e frequentadores dizem ver constantemente as almas dos torturados vagando pelos teatros em que se tornaram as antigas caixas d’água.



Alma de Rodenbach

Alma feita de sombra e silêncio, dispersos
Numa grande emoção de saudade perdida,
Que trazes minha vida e meus nervos imersos
Na cadência brumal de tua dor sofrida...

E no exílio de claustro em que vivo esta vida,
Pus-me então a sentir e a rezar os teus versos,
Alma sentimental de angústia dolorida,
Alma feita de sombra e silêncio, dispersos...

É de dentro de tua emoção que eu contemplo
E vejo que tua alma antiga me parece
Um órgão a cantar tôda a vida de um templo!

E, como refletida através de vitrais,
Bruges acinzentada e morta me aparece,

Espelhando o silêncio à tona dos canais...

Rodrigo Otávio Filho


Alvíssima

Como a Noite, Senhor,é linda
Com seus cabelos de luar...
Não chores mais, Lua bemvinda
Que me fazes também chorar...

Sorrisos do luar d'uma Caveira oca,
Sorrisos do luar enfeitiçando os brejos
Sorrisos do luar a angelizar a boca,
Sorrisos do luar onde escondi meus beijos...

Orações do luar dos lábios de nós ambos,
Orações do luar que os astros não rezaram,
Orações do luar a consagrar os tambos,
Orações do luar, das almas que noivaram.

Cabelos do luar, aveludados, frios,
Cabelos do luar em tranças latescentes;
Cabelos do luar — alvíssimas serpentes,
Cabelos do luar banhando-se nos rios...

Aromas do luar em revoadas francas,
Aromas do luar, a perfumar o céu...
Aromas do luar, sonâmbulos ao léu,
Aromas do luar, por noites todas brancas...

Brancuras do luar dispersas pelos montes...
Brancuras do luar — finos lençois de gelo...
Brancuras do luar, olhai o sete estrelo,
Brancuras do luar, a namorar as fontes...
        
Veludos do luar tecidos pela lua,
Veludos do luar, de lírios e de rosas...
Veludos do luar, ó vestes preciosas
Veludos do luar vestindo a noite nua...

Trémulos de luar — litanias peregrinas,
Trémulos de luar — ó harmonias cérulas,
Trémulos de luar, nas bocas aspérulas
Trémulos de luar, e lábios das boninas...

Tristezas do luar caindo-nos no peito,
Tristezas do luar, como um dobrar profundo...
Tristezas do luar anestisiando o Mundo,
Tristezas do luar, em lágrimas desfeito...

Lágrimas do luar da Lua aventureira,
Lágrimas do luar, da débil flor dos linhos...
Lágrimas do luar da mágua derradeira,
Lágrimas do luar, de moços e velhimhos...

Saudades do luar, na rama dos ciprestes,
Saudades do luar, há mochos a cantar...
Saudades do luar, são almas a chorar...
Saudades do luar, as podridões agrestes...

Velhinhos corações a verter sangue e máguas,
Velhinhos corações de mocidade negras,
Velhinhos corações — doridas toutinegras,
Velhinhos corações aos tombos pelas frágoas.

Vamos todos pedir à Lua sacrossanta
Na aspiração do Amor, na comunhão do Bem
Que o seu bendito olhar, o seu olhar de Santa,

Nos abençõe agora e para sempre amén!

José Duro


Além da Campa


N'um povo, perto de Cintra,
foi o reverendo prior
em fria cova depôr
o cadaver d'um pelintra
mesmo ao pé d'um seu crédor.

Apenas se viram juntos
por toda a vida sem fim
romperam n'um tal chinfrim
que, dizem velhos defuntos,
ser virgem um caso assim.

"Vossê pague! ai que vae torta!"
gritava o crédor. - Com quê? -
gemia o outro. - Não vê
que entrei nú naquela porta
porque nú me poz vossê?! -

E n'este rosnar eterno,
n'este diz tu direi eu,
o crédor, que era judeu,
enreda o outro n'um inferno
como o inferno em que viveu.

Se em meu derradeiro instante
eu tiver crédor voraz,
permite, ó Deus, se te apraz,
que por cá fique o tratante

p'ra que eu, morto, viva em paz.

Francisco Palha