segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ó retrato da Morte; Ó Noite amiga

Ó retrato da Morte; Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga

Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto,
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores:
Quero a vossa medonha sociedade,

Quero fartar meu coração de horrores.

Bocage


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