quinta-feira, 25 de junho de 2015

À morte do bacharel Manoel Antônio Álvares de Azevedo

É ainda uma aurora sem dia
que perdeu-se na noite de uma
tempestade d'inverno.
Álvares de Azevedo

Por que morreu? A aurora entre sorrisos
E o sol do amanhecer límpido e sereno
Deram-lhe há pouco a saudação do dia!
Inda tão cedo! - flor aberta apenas
Bem pouco olhou o céu, pendeu à terra,
Nas fúrias de um tufão caiu pra sempre
E a fria lage de uma campa o encerra!
Era o porvir o sonho de sua alma,
Sonhava n'ele à noite adormecido,
Ao nascer da manhã, à tarde, sempre
Dos vapores da glória embevecido!
Tinha as asas do gênio! e foi tão rápido
O seu vôo no mundo... ei-lo, mirrou-se!
Nem uma esperança! sua lousa é muda
E o branco cisne em seu cantar finou-se
Erguera-se do luto, a fronte pálida
E o coração sem forças pra viver;
Mandou um triste adeus à natureza,
Cantou inda uma vez e foi morrer!
Deixou no mundo o coração sem vida,
A quem na vida o coração lhe deu
Alou-se ao céu e ao senhor nas nuvens
Sua alma pura, humilde ofereceu.
Por que morreu? E a tarde inda o espera
Para entoar-lhe o canto da saudade;
Ai! não mais voltará - Deus quis ouvi-lo

Deu-lhe um poema no céu - a Eternidade.

Francisco da Costa Carvalho


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