quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Amargura

Oh! não me pergunteis por que motivo
Pende-me a fronte ao peso da amargura,
Quando um suspiro trêmulo, aflitivo,
Sobre os meus lábios pálidos murmura.

Quando ao fundo do lago a pedra desde,
Globo de espuma à flor do lago estala:
Assim é o suspiro: ele aparece,
Porque no coração cai dor que o rala.

Do lago a face lisa espelha flores,
No fundo a vista não divisa o ceno:
Assim dentro do peito escondo as dores,
Mandando aos lábios um sorriso ameno.

Mas quando uma aflição acerba e crua
Mais que um rochedo o coração me oprime,
Quando nas chamas do sofrer estua
Como no incêndio o ressequido vime;

Não choro, não! - De angústias flagelado
Um queixume sequer eu não profiro;
Descai-me a fronte, penso no meu fado...

Oh! não me pergunteis por que suspiro!...

Aureliano Lessa



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